Tramas distópicas revelam muito sobre o ser humano em situações extremas. A atmosfera é intimista e ressalta conflitos internos dos personagens. Podemos encontrar tais aspectos em A Luz no Fim do Mundo. Na trama, Casey Affleck perde a mulher e precisa cuidar da filha sozinho em um mundo sem muitas possibilidades para ela. O espectador acompanha a luta pela sobrevivência de pai e filha. A fuga é constante, pois quando a pequena Rag era bebê sua mãe foi foi vítima de uma pandemia que atingia somente mulheres. Após um longo período, Rag se passa por menino para evitar transtornos. A menina cresce e deseja descobrir não só o mundo, mas também a necessidade de ter um lar.
Casey Affleck é responsável por praticamente todas as vertentes do longa. O roteiro assinado pelo ator explora ao máximo a relação entre pai e filha. O pouco contato que Rag tem do mundo é assimilado pelos livros que a jovem consegue em abrigos isolados e pelas histórias um tanto quanto infantis que o pai conta. Logo o espectador sente não somente a forte ligação existente entre os dois, como também o tom cômico explorado no roteiro em momentos pontuais. Existe um equilíbrio interessante no roteiro em ressaltar conflitos típicos da pré-adolescência de Rag. O momento desconcertante em que o pai precisa ensinar a filha de onde nascem os bebês, a primeira menstruação, a rebeldia em correr riscos e a vaidade ao escolher roupas chamativas. Ao mesmo tempo que as subtramas são exploradas ainda existe a essência da inocência de uma garota que não conhece a crueldade do ser humano. Introduzir demais personagens na trama reforça a necessidade de interação, mesmo que em alguns momentos específicos a necessidade da sobrevivência fale mais alto.
A direção de Casey é estática prejudicando o envolvimento do espectador. Em determinados momentos o diretor explora uma câmera intimista quando ressalta os diálogos entre pai e filha. Porém, quando o filme necessita de um ritmo mais intenso, a câmera permanece estável. Vale destacar a fotografia que intensifica a frieza do mundo distópico. Apesar do recurso previsível dos flashbacks para retratar a relação com a mulher, a fotografia alterna a paleta de cores nos momentos em que ela se faz presente. A personagem de Elizabeth Moss é utilizada de forma extremamente equivocada pela montagem. Em determinado momento existe um corte abrupto na fala da personagem, em seguida, a mesma cena aparece estendida. Se as cenas da atriz fossem retiradas do filme não prejudicaria o andamento da trama. Outro elemento narrativo que surge em momentos pontuais é a trilha sonora. Quando a relação entre pai e filha estremece a trilha surge como principal complemento na cena.
O olhar como diretor de Casey é voltado para explorar ao máximo a interpretação dos atores. Mesmo que a câmera do diretor seja estática proporcionando uma lentidão desnecessária ao filme, em determinadas cenas a contemplação inserida na ausência de movimentação auxilia na envolvimento do espectador. São nesses momentos que Casey consegue conduzir de forma natural a presença de estreiante Anna Pniowsky. O filme é todo da atriz que precisa transmitir uma alternância de camadas para Rag. A atriz transmite sensibilidade, raiva e intensidade sem perder a inocência, mesmo que precise tomar atitudes drásticas para sobreviver. Já Casey Affleck estende várias cenas priorizando o protagonismo de seu personagem. As cenas em que ele conta histórias para a filha são monólogos que poderíam ser facilmente reduzidos ou dedicados para o maior desenvolvimento do arco da mãe na trama. A Luz no Fim do Mundo possui uma premissa já explorada em diversos filmes distópicos, porém ganha o espectador pela presença intensa da jovem Anna que toma o filme para si e mostra que de tempos em tempos uma nova geração de atores surge para mover Hollywood.
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