Existem filmes que nos despertam interesse simplesmente pela presença de determinado ator. No caso de Obsessão, o destaque fica por conta de Isabelle Huppert. A atriz vive Greta, uma viúva solitária que encontra na jovem Frances a companhia que precisava para seguir em frente. O relacionamento de ambas logo se transforma em algo mais intenso que extrapola os limites e vira uma grande dependência afetiva, principalmente, por parte de Greta. No decorrer dos atos o relacionamento da dupla ganha uma vertente mais tensa que teria tudo para gerar suspense e envolvimento no espectador, mas o que vemos é uma trama extremamente previsível.
Fica claro no decorrer do filme que a intenção é explorar ao máximo a figura de Isabelle. A atriz repete a personagem de olhar frio que fez em Elle. A interpretação da atriz funciona em determinados momentos para manter a tensão. O problema é que não existe química entre Isabelle e Chloë. Existe um desequilíbrio enorme entre as atrizes. Chloë direcionou a carreira para o gênero desde a releitura de Carrie- A Estranha. E seguimos vendo mais do mesmo da atriz. Em Obsessão ambas reforçam personagem já exploradas na carreira. Ver Isabelle em cena é uma aula de interpretação. A atriz envolve o espectador sendo uma das poucas qualidades do filme.
O destaque, além de Isabelle, é a direção de arte. A casa de Greta apresenta tons escuros, predominando o marrom. Os cômodos são apertados transmitindo a sensação de sufocamento auxiliando também na atmosfera tensa do filme. O figurino da personagem alterna cores frias, um reflexo direto da psicopata da protagonista. Já Chloë possui o figurino mais vivo apesar da tristeza pela morte da mãe. Outro elemento narrativo que auxilia na tensão presente no filme é a trilha sonora. A trilha intensifica a tensão, mas ao mesmo tempo evidência a previsibilidade dos atos de Greta.
A direção e o roteiro são de Neil Jordan que apresenta uma filmografia variada. O diretor explora ao máximo a aura de Isabelle com primeiro plano. Neil opta pelo plano detalhe em objetos cênicos significativos. A bolsa preta que reforça aspectos importantes de Greta é o destaque em várias cenas. A psicopatia da protagonista é intensificada pela câmera e olhar de Neil. O diretor auxilia na aura de Isabelle, porém não consegue criar a atmosfera tensa principalmente do segundo ato em diante. O terceiro ato é extremamente corrido e previsível. Já o roteiro possui falas dignas de reflexão, no aspecto negativo. Frances ressaltar que gruda igual chiclete e em uma cena a protagonista cuspir um chiclete no cabelo da jovem só afasta o espectador da trama. Greta começa o perseguir Frances e usa a amiga da jovem como isca. Fica difícil compreender como a protagonista tira fotos de Érica e posteriormente não a reconhece. Se a previsibilidade acompanha a trama nos dois primeiros atos, o plot twist no terceiro reforça ainda mais esse aspecto. A presença de uma personagem para tentar resgatar o passado de Greta prejudica ainda mais o arco da protagonista. Personagens com arcos previsíveis e incompletos.
O diretor Neil Jordan aposta na aura de Isabelle Huppert para transmitir a tensão necessária na trama. A atriz repete o que fez em Elle e consegue envolver o espectador. Como o filme é o reflexo direto da química entre Isabelle e Chloë, a trama perde muito do suspense pela falta de interação entre as atrizes. Chloë apresenta a mesma personagem desde Carrie - A Estranha prejudicando consideravelmente o andamento do filme. O que também prejudica muito Obsessão é o roteiro que não desenvolve os arcos por completo das personagens. Fica difícil comprar a psicopatia de Greta sem compreender as motivações da protagonista. Isabelle faz o que pode com a obsessão de um roteiro extremamente previsível.
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