Pular para o conteúdo principal

O desgaste da franquia (X-Men: Fênix Negra)



A franquia X-Men sempre ressaltou questionamentos filosóficos entre o bem e o mal. Ser um mutante entre os humanos era sinônimo de ameaça para a população. O aspecto da exclusão social também esteve presente nos filmes. X-Men: Fênix Negra reforça esses questionamentos e tenta ir além. Os mutantes são vistos como heróis e uma aparente harmonia paira na esfera social. Aparente, pois os conflitos são maiores entre os mutantes. Mística questiona Xavier sobre o verdadeiro motivo de professor querer manter laços com o governo. Xavier ressalta que o motivo sempre foi o de mudar a imagem dos mutantes perante os seres humanos. Mística sabe que não é somente o grupo que fala mais alto para o professor. O ego de Xavier ofusca o que foi construído ao longo dos anos. Além de problemas internos entre alguns mutantes da equipe, a jovem Jean absorve uma energia cósmica em uma missão de resgate e retorna com os poderes fora de controle. 

O roteiro de Simon Kinberg acerta ao focar em aspectos que são a essência da equipe de mutantes. Os conflitos internos de Jean ao ressaltar que prejudica todos que ela ama a torna vulnerável e com camadas que vão além da dualidade bem e mal. O problema é introduzir uma personagem para somar ao arco de Jean. Vuk torna-se totalmente desnecessária na trama. Jean por si só bastaria como antagonista. Além de enfraquecer o arco da protagonista, a personagem é extremamente rasa e não potencializa a vilania de Jean. Se a vilã de Jessica Chastian enfraquece a trama, o mesmo não se pode dizer de James McAvoy. As camadas presentes no arco do personagem acrescentam intensidade dramática ao dilema do professor. Outro acerto é explorar os mutantes que tiveram pouco destaque em filmes anteriores. Ciclope tem motivos mais intensos para acreditar na essência de Jean, apesar da falta de química entre os  atores. Noturno é definitivamente a grata surpresa da trama. O personagem aparece em momentos fundamentais para auxiliar a equipe. O trabalho em equipe, outra marca da franquia, envolve o espectador. Cada membro possui a devida importância para evitar a extinção da raça humana. Mutantes sendo mutantes. 

Um dos atrativos de X-Men : Fênix Negra são os efeitos visuais. Os poderes de Jean ganham a tela e ressaltam não somente a dimensão da força da protagonista, como também o cuidado ao envolver o espectador. Se por um lado os efeitos são um atrativo para o espectador, a direção de Simon Kinberg afasta o público por completo. São enquadramentos desnecessários que evidenciam obviamente o aprisionamento e tormento da protagonista. Utilizar o primeiro plano na morte de Mística sem ao menos enquadrar o rosto dos atores em cena é, no mínimo, falta de posicionamento na mise-en-scène. E os enquadramentos seguem sem propósito e criatividade. A utilização de uma câmera inconstante para transparecer a dualidade sempre presente em Magneto é um suspiro de criatividade.


Sophie Turner ainda é uma atriz limitada para o tamanho e proporção de uma protagonista com a carga emocional de Jean Grey. A atriz não consegue alternar as emoções da protagonista enfraquecendo a trama. O interessante é que a atriz divide o protagonismo com os demais mutantes. James McAvoy intensifica a presença e necessidade de Xavier no comando dos mais jovens. E o que dizer de Michael Fassbender? Magneto toma o filme para si, mesmo que a motivação não seja tão relevante assim para o andamento da trama. Só a presença do ator enche a tela de energia e força. Os demais atores complementam a equipe e auxiliam intensamente nas cenas de ação. As cenas são dinâmicas e intensificam o ritmo perdido pelo roteiro na construção da vilã. 

X-Men: Fênix Negra é um filme de encerramento básico. A monôtonia é constante entre os diálogos travados pelos personagens prejudicando o ritmo da trama como um todo. No segundo ato o filme alterna de forma satisfatória os conflitos internos dos personagens com as cenas de ação voltadas para a falta de controle da protagonista. O terceiro ato é a essência dos X-Men. A tentativa de estabelecer o controle da protagonista e a equipe alternando poderes. O ritmo fica mais intenso e o envolvimento com o espectador é restabelecido. Infelizmente, o desfecho é somente o reflexo coerente do desgaste da franquia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d