Vale tudo para conseguir colocar em prática estratégias e alcançar
determinados objetivos? Para Elizabeth Slone não existem regras e muito menos
ética profissional. Sempre um passo a frente dos "adversários", como
o roteiro ressalta em diversos momentos, a lobista adota uma postura firme e extrema
nas atitudes ao longo de Armas na Mesa - título original: Miss Slone - detalhe
para a tradução que não poderia passar em branco.
John Madden consegue extrair do elenco atuações que encaixam
perfeitamente na atmosfera da narrativa. A tensão está presente em todos os
personagens. Jessica Chastain interpreta a protagonista de forma segura. O arco
de Slone dita os passos dos coadjuvantes e transmite intensidade no decorrer
dos atos. Em um crescente, a protagonista alterna momentos de tensão e altivez.
Slone joga com os adversários e quando o espectador acredita que a personagem
está exposta, ela o envolve e mostra quem ainda permanece no comando do jogo.
Como sempre acontece em Hollywood, atores competentes fazem papeis pequenos até
conseguirem o destaque merecido. Armas na Mesa explora de forma intensa os
trabalhos Mark Strong e Michael Stuhlbarg. Se Jessica é a liderança da equipe a
favor de leis mais severas ao porte de armas, Michael é o ponto de firmeza do
lado oposto. Já Mark proporciona ao público um olhar mais pacífico e
equilibrado em meio ao caos.
O aspecto narrativo que insere o espectador na trama é o roteiro
do iniciante Jonathan Perera. O roteirista explora aos poucos e de forma
envolvente cada estratégia da protagonista e dos demais personagens. O
espectador assiste a um belo jogo de gato e rato, onde o equilíbrio entre os
oponentes torna-se essencial para construir o ritmo preciso e instigador
presente na trama. A agilidade constante nos diálogos ressalta o nervosismo
intenso refletido nas interpretações do elenco. O roteiro explora outro viés,
igualmente tenso, quando a protagonista é interrogada pelo congressista Ron
Sperling, interpretado pelo competente John Lighton. O personagem explora e
determina um ritmo diferenciado para a trama, mas igualmente envolvente.
Interessante observar o trabalho de Georgina Yarhi no figurino de
Slone. Sempre alternando entre cores escuras com peças brancas. Ao longo da
narrativa a predominância de tons neutros ressalta a frieza e a estratégia da
protagonista. Em determinados momentos o roteiro enfatiza uma cor específica
para causar a impressão desejada. A trilha sonora de Max Richter também auxilia
e aparece sempre em momentos decisivos da personagem.
Apesar de John Madden optar por acelerar o ritmo no final do
terceiro ato causando uma tensão exagerada que não segue o ritmo ditado durante
todo o filme, o choque e descompasso final não prejudicam o conjunto de Armas
na Mesa. Mesmo com os problemas existentes no desfecho, a narrativa é tensa e
extremamente envolvente.
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