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Octavia é a atração necessária para o espectador (MA)


Um suspense que utiliza toques de comédia no decorrer dos atos. O primeiro ato de MA é  previsível. Uma mãe solteira que retorna com a filha no auge da puberdade para a cidade natal. Enquanto a mãe trabalha com afinco para pagar as contas, a jovem tenta se adaptar ao ambiente escolar. Após a introdução das personagens, Sue Ann surge na trama em um emprego monótono, em uma clínica veterinária. Maggie busca identificação com um grupo que nas horas vagas gosta de fumar maconha e beber até o auge da amnésia. Sue cede o porão de sua casa para diversas festas dos jovens e se sente aceita. 

Um dos grandes méritos de MA é a presença diferenciada de Octavia Spencer. A atriz conhecida por personagens coadjuvantes finalmente ganha o devido destaque em um filme de gênero. A presença da atriz envolve o espectador ao construir Sue com camadas conflitantes. Por diversas vezes a personagem carrega o suspense da trama. Se Octavia está excelente em cena, a jovem Diana Silvers utiliza somente um tom durante todo o filme. A atuação prejudica imensamente o andamento da trama, pois a atriz confunde timidez com medo. Não dá para compreender como Diana está constantemente esperando que algo aconteça, mesmo que a personagem esteja  um ambiente descontraído com os amigos. Outro aspecto negativo é a presença de nomes fortes de  Hollywood que são explorados somente com pontas soltas no roteiro. O esforço dos atores é nítido, mas a presença não é forte o suficiente. A sensação que fica é de desperdício de arco dos personagens.

O desperdício do arco dos personagens é consequência direta do fraco roteiro de Scotty Lances. Os coadjuvantes surgem em pontas pequenas para complementar a trama de Sue. O foco são os jovens e Sue, porém os demais coadjuvantes aparecem de forma desnecessária. Missi Pyle é constante explorada com o viés cômico, mas se Mercedes fosse mencionada somente na fala do interesse amoroso de Diana, não precisaria da presença da atriz. O mesmo acontece com Allison Janney. Uma atriz tão competente que aparece somente para dizer repetidas falas que não acrescentam na trama. Lute Evans demonstra mais potencial com consequências diretas na vida de Sue. Os demais jovens são típicos estereótipos de filmes escolares. 


O tom de suspense cresce à medida que Sue finalmente revela seus traumas e sociopatia. Aspectos importantes da vida de Sue surgem com um ritmo contemplativo explorado pela montagem. A alternância envolve os espectador e evidência a violência gráfica no terceiro ato. O drama típico de filmes B perto do desfecho também é um atrativo cômico. Por falar em comicidade, o diretor Tate Taylor consegue encontrar o equilíbrio das camadas de Sue. Mortes repentinas são alternadas com momentos trash mais intensos. 

MA é voltado principalmente para o arco de Sue. O filme envolve o espectador por completo graças à presença de Octavia Spencer. O roteiro explora subtramas importantes para destacar a sociopatia da protagonista. O problema é o destaque voltado para a personagem de Maggie. A falta de experiência da atriz prejudica consideravelmente a trama. A presença da atriz proporciona momentos confusos em termos de atuação. Confundir timidez com medo? Ainda bem que Octavia ofusca o restante do elenco. O filme é da atriz e esse aspecto é um atrativo suficiente para envolver o espectador. 

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