Pense em um trem, o maquinista e os passageiros. Substitua esses elementos pela trama, diretor e elenco. É o que acontece em A Garota no Trem. Temos personagens totalmente sem rumo tentando permanecer nos acentos e Tate Taylor na direção inconstante do filme. O enredo gira em torno de Rachel Watson que está divorciada e encontra-se instável emocionalmente em decorrência de problemas com álcool. Dependente da bebida, a protagonista alterna momentos de sobriedade e embriaguez com lapsos de memória. No momento em que se desloca de Ashbury para Londres, uma jovem lhe chama atenção. Rachel vislumbra um sentido para a vida depressiva ao observar o cotidiano e a felicidade de Megan mas enxerga algo que coloca em xeque o que parecia intenso e verdadeiro na harmonia que testemunhava.
A trama tem uma condução interessante no primeiro ato, o trem parece estar em perfeita sintonia com os personagens. Aos poucos, nos deparamos com os conflitos de Rachel, Anna e Megan. O tom da narrativa é estável a medida que o espectador se envolve no drama do trio. O trem e a velocidade oscilam consideravelmente quando os arcos se cruzam e as histórias se complementam. Neste momento o diretor perde totalmente o controle. A edição e montagem auxiliam consideravelmente na falta de foco da trama. As mulheres possuem dramas intensos e complexos que se perdem no meio do caminho, como falhas nos trilhos que dificultam o fluxo do trem que começa a desgovernar. Imagine que o veículo está totalmente fora de controle e cabe ao diretor tentar reduzir a velocidade e colocá-lo novamente em segurança. Tate acredita no comando da direção e utopicamente deixa os passageiros estáveis na zona de conforto proposta. A cada cena em que temos contato com as camadas das mulheres apresentadas, o trem perde consideravelmente a força causando um choque de tom na narrativa.
Uma passageira se destaca em meio ao caos instalado dentro do trem. Emily Blunt interpreta Rachel com intensidade, mas também se perde nos trilhos pela forma como é dirigida em cena. Em vários momentos, o espectador está envolvido no arco da personagem porém, o ritmo é sempre quebrado pela edição que insere as demais subtramas aos poucos sem desenvolvê-las por completo.
No terceiro ato, para dar ênfase ao clímax presente no enredo, os coadjuvantes ganham destaque somente para causar impacto e propor agilidade para a trama. Allison Janney e Lisa Kudrown aparecem para tentar conduzir o espectador que já está fatigado das inúmeras reviravoltas que parecem não ter desfecho.
A Garota no Trem apresenta ao público uma narrativa que começa perfeitamente dentro dos trilhos, mas que aos poucos se perde em subtramas e na falta de tom deixando o espectador totalmente sem rumo a bordo de um trem desgovernado.
Comentários