Dentro de nós existe o bem e o mal duelando constantemente. Quando um episódio trágico acontece, as forças duelam ainda mais e inevitavelmente temos que optar: ou o ódio nos motiva, ou tentamos seguir em frente. Tentamos. Simplesmente tentamos viver com o peso de nossos atos e consequências de nossas escolhas. Mildred Hayes decide alugar três outdoors para denunciar o assassinato e estupro de sua filha adolescente. Com o ato surgem várias consequências que envolvem todos em torno da mãe que carrega uma imensa dor dentro de si.
No começo de Três Anúncios para um Crime a trilha sonora de Carter Burwell acompanha as ações de todos os personagens. Quando a protagonista decide colocar os anúncios, a trilha pulsante surge de forma motivadora. O mesmo acontece com a trilha suave nos momentos dramáticos dos três protagonistas. Como a dualidade persiste em todos os personagens, a fotografia oscila entre uma paleta de cores quente e fria. O policial Jason Dixon aparece com uma forte luz vermelha. O lado mal, a amargura presente na figura do personagem, o acompanha em boa parte da trama. A paleta de cores mais quente está envolta no policial Bill Willoughby. O bem está lado a lado do chefe de polícia que sofre por não descobrir o culpado do crime da filha de Mildred. Já a protagonista correga consigo o ódio e o humor. A combinação dos dois opostos reflete na paleta de cores variadas.
O roteiro de Martin McDonagh evidência o trio de protagonistas com igual intensidade. Todas as ações dos personagens impulsionam a trama de tal forma que o espectador compadece e sente empatia pelo trio. Um dos aspectos ressaltados no roteiro e presente nas demais tramas do diretor é o humor com destaque para o forte viés preconceituoso. O personagem de Sam Rockwell solta pérolas que soam de forma irônica e provocam risos no espectador, mas que são como verdadeiros tiros disparados repletos de rancor. Já um humor mais leve e igualmente eficiente complementa o arco de Mildred e Bill. Com reviravoltas precisas e impactantes, não existe espaço para o julgamento das ações que movem o roteiro, somente a percepção da imensa humanidade presente no trio de protagonistas.
Três Anúncios para um Crime não teria a força que impulsiona a trama se não fosse pela compreensão e composição dos atores nos respectivos personagens. Com um competente roteiro, Martin explora cada um de forma intensa para que eles tenham o destaque devido. Frances McDormand ressalta no físico e no olhar toda o dor e compaixão presente em Mildred. A humanidade de Woody Harrelson cativa instantâneamente o espectador. É tocante a entrega do ator em cena e a importância de Bill ao conduzir determinada parte da trama reforça ainda mais a humanidade do chefe de polícia. O que dizer de Sam Rockwell? O humor e a construção do personagem transformam Jason em um reflexo cruel e belo do ser humano. Três indicações merecidas para o Oscar. Três atores que brilham e transbordam humanidade em cena.
Como lidar e tentar compreender o sofrimento do outro? Atitudes extremas são justificáveis quando determinadas ações prejudicam os demais ao seu redor? Perguntas que surgem quando duas forças que duelam constantemente dentro de nós tentam a qualquer custo buscar o equilibrio. Todos os personagens são motivados por essas forças que simplesmente os tornam mais humanos. Três Anúncios para um Crime é o centro do duelo das forças que envolvem o espectador e transformam o trio de protagonistas em intensos seres humanos.
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