Logo nos primeiros minutos de Detroit em Rebelião o espectador observa a atmosfera documental presente na trama. Um resumo breve de alguns períodos marcantes da história Americana e Mundial são retratados por desenhos e evidenciam a narrativa tensa presente no filme. A trama gira em torno dos cinco dias de motins na cidade de Detroit no ano de 1967. Vários protestos e saqueamentos resultam no caos e um ataque policial provoca consequências graves.
A firmeza das mãos de Kathryn Bigelow é o centro que conduz e eleva o ritmo da trama. A habilidade da diretora em intercalar momentos mais tensos e a suavidade musical no filme são fundamentais para mesclar realidade e ficção. Uma temática tão forte necessita de um ritmo mais ágil para envolver o espectador. A atmosfera documental também auxilia na aproximação do público. O que prevalece é a câmera trêmula com cortes rápidos. Kathryn explora ao máximo o desempenho dos atores em cena. A diretora destaca o primeiro plano e o zoom in para intensificar a atuação do elenco. A suavidade e delicadeza ao retratar o arco musical de Larry demonstra a segurança da diretora ao transitar por diferentes gêneros.
Nos momentos mais violentos no motel a mise-en-scène é destaque pela movimentação dos atores em cena para reproduzir com fidelidade a veracidade dos fatos. A fotografia de Barry Ackroyd reforça com paleta de cores quentes a tensão dentro do ambiente proporcionando a sensação de sufocamento e desespero dos jovens diante dos policiais. A paleta modifica para cores frias quando a trama retorna para as ruas de Detroit. A trilha sonora auxilia no equilíbrio entre realidade e ficção. No arco do grupo musical The Dramatics, a suavidade presente na voz de Larry proporciona alívio para o espectador.
A agilidade no ritmo presente na trama é resultado da sincronia entre direção e edição. Harry Yoon e Willian Goldenberg conseguem intercalar perfeitamente os momentos de tensão na ficção com os jornalísticos retratados pela realidade dos acontecimentos. Outro elemento narrativo que envolve o espectador é a reconstituição de época. A direção de arte de Greg Barry e Jim Wallis é repleta de detalhes e cuidados para que o público esteja inserido na aura de 1967.
Detroit em Rebelião é uma trama envolvente pelos elementos narrativos e também pelo talentoso elenco. Will Pouter interpreta o policial Krauss com veracidade e firmeza no olhar que reforça a vilania e a temática do preconceito racial presente no roteiro. O fato de duas jovens brancas estarem envolvidas com negros intensifica ainda mais a brutalidade do trio policial. O arco de Larry proporciona suavidade e intercala momentos leves musicais para o filme. O personagem de John Boyega procura amenizar a situação em meio ao caos. Dismukes evita conflitos sem deixar que a emoção e revolta contidas sejam ressaltadas. O roteiro de Mark Boal explora no monólogo de Carl a força do excesso de poder e a dor de quem sofre o preconceito, ao mesmo tempo que incentiva em meio ao caos a busca pelo sonho.
Detroit em Rebelião é uma trama em que a ficção e realidade se intercalam de forma envolvente. A trilha sonora enaltece a suavidade e alívio para o espectador em meio ao caos dos dias de motins marcados e camuflados pela história Americana. Pense no movimento da supremacia branca ocorrido em Charlottesville, no estado da Virgínia nos Estados Unidos, a trágica morte de Oscar Grant lII, que teve um olhar também realista retratado no filme Fruitvale Station e o caso Amarildo Dias de Souza que foi abafado de todas as maneiras pela polícia do Rio de Janeiro. A trama aborda cinco dias de caos em Detroit no ano de 1967, porém, a reflexão se faz necessária ao percebermos que a ficção nunca esteve tão próxima e atual.
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