Uma nova aventura. Um novo recomeço para o herói. Após entrar no
universo compartilhado da Marvel em Guerra Civil, o Homem- Aranha
retorna em um filme solo. GuerraCivil soube explorar resumidamente e de forma eficaz a origem do herói. Com um filme próprio, “as
responsabilidades e poderes aumentaram” e o que temos é uma narrativa centrada no
público infantil e adolescente.
A trama começa com Peter fazendo um vídeo para encontrar Happy
Horgan e Tony Stark para a cena que o espectador conferiu em Guerra Civil. A
cena do aeroporto é registrada com olhar diferenciado. Um olhar típico adolescente
que possui a necessidade de filmar tudo. Com Peter Parker não seria diferente.
Ele fica deslumbrado com toda a tecnologia do Homem de Ferro e precisa filmar
sua participação no combate entre os heróis. Esse aspecto é interessante pois
insere a tecnologia na atmosfera que permeia toda a narrativa.
O filme ganha uma atmosfera mais próxima do público jovem porque a
trama é centrada basicamente em dois núcleos: o ambiente escolar e as aventuras
do homem-aranha tentando se adaptar aos novos poderes e uniforme, que
durante todo o filme mais atrapalha do que auxilia o herói. A trama é melhor desenvolvida
quando o jovem está vivendo o cotidiano típico de um adolescente. Estar
apaixonado pela garota mais popular da escola, pertencer ao grupo de nerds, não
ter muitos amigos e sofrer bullying quase todo o tempo. Quando o roteiro explora
esse viés, tendo como fonte direta os filmes de John Hughes, a
narrativa é envolvente e insere também o público adulto com toques de nostalgia
dos filmes oitentistas. A narrativa cresce consideravelmente quando o protagonista
vive o dilema de ser adolescente e cometer erros típicos da idade, ao mesmo
tempo que tenta lidar com “as responsabilidades” de ser um super-herói.
A mesma qualidade e desenvolvimento da vida pacata de adolescente
escolar explorada de forma redonda pelo roteiro não é retratada com competência quando o herói veste o uniforme. Existe uma conexão entre o jeito atrapalhado
de ser do jovem que está presente no herói, mas no meio do segundo ato fica
cansativo para um público mais velho acompanhar o adolescente enfrentando
perigos mais intensos do que roubos de carros ou bancos. Para um nicho
específico funciona perfeitamente, mas para espectadores adultos fica monótono.
O roteiro consegue extrair momentos interessantes para o vilão com motivações que movem a trama e se encaixam no universo proposto pela Marvel, mas fica a sensação de que Michael Keaton poderia ter feito muito mais pelo ator competente que sempre mostrou ser. O fato de não ter cenas megalomaníacas e um raio azul cortando o céu já é um acerto para o aranha. Impossível não se perguntar em determinado momento: Onde está o vilão? Ele fica uma boa parte sem aparecer, o que é uma pena, mas retorna com um plot twist marcante proporcionando uma dramaticidade maior para o arco de Peter Parker.
A tecnologia que está diretamente voltada para um dos melhores
personagens do filme funciona organicamente e estabelece a necessidade do herói
em ter um auxilio humanista. O filme cresce com a relação dos
amigos Peter e Ned. Ambos vivem os dilemas e inseguranças de todo adolescente. Ned é o alívio cômico presente durante todo o filme. A química entre os
atores flui com naturalidade e reforça o lado humano do herói.
Homem Aranha: De Volta ao Lar é um filme leve para um nicho
específico: crianças e adolescentes. Esse aspecto não é algo negativo, muito
pelo contrário, se faz necessário ter um equilíbrio dentro do gênero. O filme cresce muito quando bebe na fonte de John Hughes. As referências ao ambiente escolar e os dilemas adolescentes explorados nos filmes do diretor
envolvem o público por seres universais. O Homem-Aranha
pode salvar a cidade combatendo o vilão Abutre, mas quem salva o Aranha é
John Hughes.
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