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A imersão do espectador (Z - A Cidade Perdida)


James Grey possui detalhes interessantes em torno de sua filmografia: a leveza em conduzir a narrativa, a ambientação da trama e o cuidado ao explorar os personagens. O diretor conduz o filme sem pressa e prioriza a imersão do espectador na história. Foi assim em Amantes, quando o personagem de Joaquim Phoenix permanecia em conflito ao estar apaixonado por duas mulheres. O que dizer do dilema de Marion Cotillard em Era uma Vez em Nova York? A riqueza de detalhes da direção de arte e a busca pelo sonho da personagem são aspectos narrativos que sobressaem no filme. Podemos ressaltar as mesmas características em Z – A Cidade Perdida. O coronel Percival Fawcett persiste em um objetivo: descobrir e provar a existência de civilização na Amazônia. Ao longo da trama podemos intensificar o cuidado com a ambientação, a riqueza ao explorar os conflitos do protagonista e a leveza ao conduzir a narrativa. Todos os elementos de filmes anteriores estão presentes na novo longa de uma maneira inteiramente orgânica que nos envolvemos no sonho do protagonista.

No primeiro ato o espectador é imerso na ambientação do século XX, o detalhe para as vestimentas e o cuidado com os objetos cênicos são evidentes. James Grey consegue intensificar ao máximo o contexto histórico e aos poucos o espectador é transportado para a época em que a trama é retratada. O diretor explora com equilíbrio o roteiro, ambientação e relevância dos personagens. A utilização da luz em determinadas cenas ressaltam os dilemas e pensamentos do protagonista. Nas cenas intercaladas com pensamentos da vida em que levava com a mulher na Inglaterra nos remete ao trabalho e leveza de Terrence Malick intensificando o aspecto poético da narrativa.

Quando Percival tem contato com os indígenas, a natureza toma conta da narrativa e James explora a cultura da tribo. O contato do protagonista com os costumes e rituais é um misto de fascinação e deslumbramento. A edição é precisa e proporciona ao espectador o ritmo necessário e fundamental toda vez que o personagem retorna para a Amazônia. O equilíbrio entre as cenas de tensão rumo ao desconhecido também proporcionam ritmo a narrativa. No momento em que os personagens estão na floresta, o trabalho de composição do elenco fica mais evidente. Charlie Hunnam transmite uma dualidade importante para o protagonista. A serenidade com que Percival enxerga o inesperado e determinação ao lutar por seus objetivos é tocante de se ver. O amadurecimento e entrega física do ator transbordam na tela. Destaque também para o trabalho de Robert Pattinson que utiliza características específicas para compor Henry Costin que engrandecem a interpretação do ator.


O roteiro escrito por James Grey intensifica pontos interessantes para o crescimento dos personagens ao longo da trama. Nina Fawcett é a âncora que fortalece o marido nos momentos mais difíceis, sem deixar de lado seus ideais de independência feminina. Cuidar de três crianças exercendo a figura paterna e ser a motivação para Percival seguir adiante impulsiona a trama. O roteiro explora de forma competente a tensão e o humor sutil na narrativa. A edição auxilia ao contar as tramas paralelas entre Inglaterra e Amazônia. Todos os personagens possuem arcos definidos, mas a ambientação em determinado momento torna-se a protagonista. A leveza com que o personagem relembra momentos com a família proporciona ao filme momentos de alívio para o espectador. Um lirismo que suaviza a jornada e engrandece Percival. 

James Grey retoma elementos narrativos em Z - A Cidade Perdida. A ambientação, a riqueza dos personagens e a leveza ao conduzir a narrativa fazem o trabalho do diretor ganhar proporções intensas e realistas. A cada cena, James aproxima o espectador da trama ao explorar com competência e domínio todos os elementos narrativos presentes no filme. A suavidade ao envolver o público em cada take engrandece a trama. James Grey consegue o que poucos diretores atuais compreendem: a imersão do espectador pela sutileza das imagens.

Comentários

Unknown disse…
Vale a pena assistir esse filme adorei muito Tom Holland. Na minha opinião Homem aranha de volta ao lar foi um dos melhores filmes de ação que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, em o Novo Homem Aranha Tom Holland faz um excelente trabalho como ator. Não tem dúvida de que Tom Holland foi perfeito para o papel de protagonista.

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