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O caos organizado dos Irmãos Safdie (Bom Comportamento)


Bom Comportamento apresenta uma trama simples ao espectador: Connie Nikas (Robert Pattinson) precisa de dez mil dólares para retirar o irmão caçula deficiente mental da cadeia. Após um assalto, o protagonista foge deixando o irmão para trás. O grande trunfo da narrativa dos irmãos Ben e Joshua Safdie é envolver o público em um caos frenético imerso na constante trilha sonora e fotografia que pulsa junto com a trama.

Com poucos atores em cena é preciso que o elenco esteja seguro para transmitir toda emoção e tensão que o filme necessita. Robert Pattinson atribuí ao protagonista a sensação de adrenalina com zelo ao fazer de tudo pelo o irmão. Ben Safdie é o contratre ao proporcionar a Nick um ar ausente e de tranquilidade que o personagem precisa para estabelecer ainda mais o elo com o Connie. Jennifer Jason Leigh interpreta Corey com carência e nervos à flor da pele, o que corrobora com a proposta de manter o ritmo da trama. O mesmo acontece com Buddy Duress como Ray. Se o espectador desviar os olhos da tela perderá o monólogo frenético do personagem. 

A proposta dos irmãos Safdie é clara : estabelecer uma conexão direta com o espectador. Para impactar ao público, os diretores apostam em uma trilha constante, câmera com takes que possuem variações entre primeiro plano e close e uma fotografia com cores voltadas para o neon. Os elementos se entrelaçam em um caos organizado e frenético. A estética prevalece e sobressai aos olhos do espectador proporcionando a sensação de sufocamento e urgência na coordenação das cenas e ações dos personagens.


O que também mantém o ritmo constante e envolvimento do espectador é o trabalho preciso da edição e trilha sonora. Ben e Joshua Safdie estabelecem uma parceria com Ronald Bronstein e atribuem a trama um ritmo intenso em que as cenas ganham aspectos constantes e urgentes. O público acompanha as ações de Connie imersos na adrenalina do protagonista. Os cortes rápidos também exploram a intensidade e caos urgente presente na mise-en-cséne. A trama ganha um falso alívio no meio do segundo ato com Ray, mas logo o caos retorna com a pulsante trilha sonora da dupla Daniel Lopatin e Ran Bagno. 

Não existe espaço em Bom Compartamento para alívios cênicos. Os elementos narrativos casam perfeitamente com a proposta da direção. O impacto estético e intenso projetado na tela estabelece uma conexão imediata com o público. Mesmo que em alguns momentos seja incômodo o excesso de trilha, ela dialoga e se faz necessária dentro do contexto narrativo. Próximo ao desfecho, o espectador tem uma experiência única de imersão no caos organizado e frenético orquestrado pelas mãos seguras dos irmãos Safdie.

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