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O primo pobre de Match Point (Homem Irracional)


Sabe aquela sensação de ter visto a mesma temática em alguns filme de Wood Allen? Religiosidade, moralidade, protagonista envolto em um dilema que persiste até o desfecho impactante e banal da trama. Tudo está presente em Homem Irracional. Apesar de fazer filmes com intervalos cada vez mais próximos de qualidade questionável , vale conferir o que Allen tem para oferecer ao espectador.

A trama gira em torno de Joaquin Phoenix, um professor universitário desiludido e depressivo que não encontra motivações para a vida. Entre um caso amoroso e outro, ele se aproxima de Emma Stone. Ao escutar uma conversa alheia no café, tudo começa a fazer sentido para o protagonista. Até o momento de epifania, Abel utilizava da racionalidade para explicar seus devaneios e afastar cada vez mais o interesse amoroso de Jill por ele. Após determinado acontecimento, o que poderia ser interessante e envolvente para o espectador fica extremamente entediante. Wood não consegue distinguir o gênero que Homem Irracional deveria ter. A história possui toques de drama, romance e suspense. Ao final, não sabemos ao certo qual a real proposta do diretor. 

A fotografia utilizada na casa do protagonista reflete o estado vivido por ele. Sempre melancólico e acompanhado da bebida, a meia luz vinda do quarto exalta o comportamento de Abe. A mudança drástica de atitude é reforçada por belas paisagens que transmitem um ar de liberdade mesclada com atuação diferenciada do ator.  


O roteiro explora situações conflitantes, o texto mesmo que repetitivo propõe questionamentos interessantes ao público. Até que ponto nossas ações podem justificar um bem estar ilusório interior? O protagonista muda drasticamente sua vida em função de algo imoral, mas que faz total sentido para ele. Ao levantar esse questionamento temos contato com o que há de melhor na filmografia de Allen. Personagens em um determinado cômodo da casa ou na mesa de jantar debatem os mais variados temas e voltam a degustar o menu principal, a vida segue seu rumo. 



O que poderia ser o ponto forte do filme, o roteiro, não ganha a força que deveria na interpretação de Emma Stone. Em nenhum momento a personagem transmite que está verdadeiramente apaixonada ou perplexa com os atos cometidos pelo professor de filosofia. Joaquin parece a todo momento desconfortável ao lado da jovem , o que resulta na perda de ritmo da trama. Diferente de Parker Rosey como Rita. A trama cresce consideravelmente quando Phoenix contracena com a atriz. Todas as cenas ressaltam a química intensa de ambos. 

O suspense gerado agrava ainda mais a narrativa do filme. Já no terceiro ato, a conclusão lembra muito a simplicidade e o acaso vistos em tramas anteriores do diretor porém, com menos intensidade. O desfecho proposto surge de forma tão abrupta que o suspense gerado não causa o verdadeiro impacto no público. Mesmo com temática interessante e questionamentos relevantes, o espectador merecia mais do diretor que faz de Homem Irracional um simples primo pobre de Match Point.  

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