Uma das características marcantes do diretor Lars Von Trier é brincar com o espectador. Primeiramente, ele nos choca sem ao menos ter contato com suas obras, ele gera expectativas e nos faz demonstrar interesse pela história. Posteriormente, ficamos atordoados pela forma impactante como os fatos são revelados, tudo começa a entrelaçar e ter proporções drásticas. Finalmente, a narrativa chega ao seu desfecho para deixar o público mergulhado no caos e complexidade do ser humano. Ninfomaníaca: Volume II segue esse "padrão" e o diretor nos apresenta a continuidade de uma intensa e inovadora experiência baseada em reflexões.
O
filme retoma o diálogo entre os principais personagens Joe e Seligman, aos
poucos a narrativa ganha uma nova densidade, pois temos contato com as
consequências vivenciadas pela personagem em função do vício. Nesta sequência,
o diretor apresenta as tentativas de Joe ao lidar com situações extremas. A
parte poética presente no volume I está mais branda na segunda parte. Destaque
para a cena em que a personagem encontra a sua árvore e recorda antigas
lembranças de afeto ao lado do pai.
Tudo é avassalador e muito visceral nesta
sequência, assim o desconforto do espectador é inevitável. Temas como o
Cristianismo, pedofilia e sadomasoquismo são debatidos por Seligman e Joe.
Esses temas são apresentamos em cenas mostrando os contrastes vividos pela
personagem na tentativa de enfrentar o vício ou se render a ele. A impressão
que se tem é que Lars quer justificar certas atitudes da personagem, o que era
feito na primeira parte de forma poética, agora, ganha aspectos de monotonia.
Várias cenas são intensos monólogos de Joe e muitas delas são extensas, o que
prejudica o decorrer da trama. Outro aspecto é ressaltar que a
protagonista não envelhece fisicamente na fase adulta, então qual seria a
razão da troca de atores vividos por Jerome?
Não estranhe se em determinado momento você pensar: eu não acredito que ele faria isto novamente. Caro leitor, se você viu Anticristo este pensamento surgirá inevitavelmente. Poucos diretores conseguem extrair a complexidade do ser humano como Lars Von Trier. Agora, resta somente aguardar a próxima película desta mente criativa.
Comentários