Na mitologia grega, a caixa de pandora foi criada para conter os males mundanos, principalmente os do corpo e da alma. Em A Baleia, Darren Aronofsky abre a caixa de pandora de Charlie, um professor de literatura meigo, que enfrenta tudo o que o objeto lhe proporciona, inclusive, a esperança nos outros. Vale destacar que o protagonista está extremamente enfermo por sofrer de obesidade mórbida. Ele pesa mais de 270 kilos e a única esperança é passar alguns momentos com a filha adolescente.
Aronofsky faz questão de abrir sempre a caixa de pandora de suas criaturas, porém Charlie recebeu uma caixa repleta de superficialidade em um roteiro raso. A Baleia é a adaptação da peça de teatro de Samuel D. Hunter, por essa razão existe o conflito no estudo de personagem na narrativa, os males do corpo e da alma estão lá, porém explorados de maneira equivocada. A ausência na assinatura do diretor faz o espectador se afastar por completo de Charlie. Sentimos pena, muita pena do SER HUMANO. Todos os coadjuvantes exploram ao máximo as mazelas de Charlie, para, posteriormente, ressaltarem um fio de esperança nele. A filha, Ellie, o tortura psicologicamente e oferece um sanduíche de atum para amenizar as calorias ingeridas pelo protagonista? A ex-mulher, Mary, apenas é surge para jogar todo o rancor e ainda quer escutar o pouco do que resta das batidas do coração de alguém que pode morrer a qualquer instante? A enfermeira, Liz, melhor amiga, a única que se importa, mas também enche o protagonista de comida? No fim das contas, todos os arcos estão soltos e girando em círculos para torturar o protagonista.
O desing de produção ressalta os sentimentos bons que Charlie guarda na memória por Alan, seu companheiro no passado, mantendo o quarto deles intacto e limpo. Por outro lado, o cômodo do protagonista transparece um aspecto sujo e sem vida, como ele se vê perante tudo e todos. Existe também um resquício de autoria quando Darren mantém a câmera fixa em Brendan Fraser para destacar a potência do olhar de Charlie, obviamente explorando o lado obscuro dele, marca registrada do diretor. Temos também o viés religioso que surge em diversos filmes de Aronofsky, porém, mais uma vez, de forma superficial. O desfecho para o jovem missionista, interpretado por Ty Simpkins, que visita de vez em quando o protagonista é cercado de maldade e não de esperança, como Charlie acredita que a filha tenha feito.
Além da obsessão de Charlie pelo clássico Moby Dick existe o passarinho que estabelece um elo com o protagonista pela comida. Para o pequeno não existem amarras, ele é livre, enquanto Charlie permanece preso na gaiola do corpo e mente. O prato quebrado anuncia o inevitável, um leve toque Darren de ser. Infelizmente, não temos a autoria de um diretor que instiga o espectador. Em A Baleia, só temos os males da caixa de pandora no sofrimento constante de Brendan em buscar esperança nos demais. O que fica é o olhar de Charlie, mas esse detalhe não basta.
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