O quarteto está bem entrosado e demonstra domínio dramático, pois a temática exige mais dos atores. Giulia Benite é a que apresenta o maior alcance dramático porque precisa ficar distante dos amigos em outro colégio. A atriz emociona o espectador por ter que se desfazer de bens materiais significativos para crescer. Não desfazer por completo, somente deixar que outros também ganhem significados reais. Ainda no núcleo feminino, Laura Rauseo é a que apresenta maior evolução em termos de arco no roteiro. A temática é complexa e a atriz consegue transmitir a importância em diagnosticar e procurar ajuda para amenizar a ansiedade, tudo de forma divertida e leve. Já os meninos são menos desenvolvidos e não apresentam maiores contrastes se comparado com o primeiro longa. Kevin Vechiatto é o líder na ausência de Mônica, porém o arco não ajuda na evolução dos personagens. Já Gabriel Moreira é puro carisma como Cascão, porém o personagem fica inúmeras vezes em segundo plano com momentos de desfecho rápidos.
Após o lançamento de Turma da Mônica-Laços, o diretor Daniel Rezende ressaltou em entrevistas que gostaria de acompanhar o crescimento do quarteto de protagonistas nas telas. Com Turma da Mônica-Lições, toda a turminha retorna nos devidos personagens e eles estão crescendo. O roteiro foca no valor da amizade e em crescer de forma dolorosa e sensível. Após alguns desentendimentos entre os adultos, Mônica e transferida para uma escola integral e fica longe dos amigos. A falta faz com que os amigos reflitam sobre amizade e como lidar com situações e sentimentos novos. O arco do quarteto é de fundamental importância, pois toca em questões atuais: Magali precisa lidar com a ansiedade e compulsão alimentar; Cebolina começa um tratamento com a fonoaudióloga para falar dileito, ou melhor, direto; Cascão começa a fazer natação para perder o medo de água e Mônica precisa lidar com decisões importantes. Para o público infantil são temáticas difíceis abordadas de uma forma leve e sensível. Infelizmente, o que acontece com o quarteto não é sentido com os demais coadjuvantes e participações especiais. Os personagens surgem de forma abrupta na narrativa e não são desenvolvidos devidamente. Tina possui um arco abrangente e influencia diretamente na jornada de Mônica. Os demais somente ganham o devido destaque no terceiro ato quando o significado de amizade é fortalecido. Outro ponto positivo no roteiro é como o arco do quarteto influencia diretamente no núcleo adulto. Aqui as crianças realmente ensinam os adultos da melhor forma possível, em uma peça de teatro baseada em Romeu e Julieta.
Um elemento narrativo que é explorado em excesso é a trilha sonora que reforça ainda mais a atmosfera dramática do longa. A direção de Daniel Rezende prioriza em várias cenas o close para ressaltar a atuação das crianças, o que poderia ser suficiente para envolver o espectador, mas em diversos momentos a trilha surge como recurso emotivo e o elemento extrapola o que poderia ser bem mais simples proporcionando a mesma emoção. Aqui a trilha é a verdadeira protagonista que acompanha os personagens em todas as cenas, onde muitas vezes o silêncio seria a melhor opção. No geral, Turma da Mônica - Lições cativa adultos com coadjuvantes marcantes nos quadrinhos e ensina verdadeiras lições para os pequenos. Mônica reflete que não precisa deixar de ser criança para lidar com assuntos de gente grande. Magali consegue controlar a ansiedade e aproveitar cada momento. Cebolinha aceita que cada um possui qualidades que precisam ser ressaltadas e que está tudo bem em deixar algumas questões de lado e priorizar outras que realmente importam. Já Cascão demonstra que o medo é particular e que devemos enfrentá-lo com coragem. O quarteto aprende muito e nos ensina muito mais.
Comentários