Pular para o conteúdo principal

Crianças ensinando os adultos (Turma da Mônica - Lições)



Após o lançamento de Turma da Mônica-Laços, o diretor Daniel Rezende ressaltou em entrevistas que gostaria de acompanhar o crescimento do quarteto de protagonistas nas telas. Com Turma da Mônica-Lições, toda a turminha retorna nos devidos personagens e eles estão crescendo. O roteiro foca no valor da amizade e em crescer de forma dolorosa e sensível. Após alguns desentendimentos entre os adultos, Mônica e transferida para uma escola integral e fica longe dos amigos. A falta faz com que os amigos reflitam sobre amizade e como lidar com situações e sentimentos novos. O arco do quarteto é de fundamental importância, pois toca em questões atuais: Magali precisa lidar com a ansiedade e compulsão alimentar; Cebolina começa um tratamento com a fonoaudióloga para falar dileito, ou melhor, direto; Cascão começa a fazer natação para perder o medo de água e Mônica precisa lidar com decisões importantes. Para o público infantil são temáticas difíceis abordadas de uma forma leve e sensível. Infelizmente, o que acontece com o quarteto não é sentido com os demais coadjuvantes e participações especiais. Os personagens surgem de forma abrupta na narrativa e não são desenvolvidos devidamente. Tina possui um arco abrangente e influencia diretamente na jornada de Mônica. Os demais somente ganham o devido destaque no terceiro ato quando o significado de amizade é fortalecido. Outro ponto positivo no roteiro é como o arco do quarteto influencia diretamente no núcleo adulto. Aqui as crianças realmente ensinam os adultos da melhor forma possível, em uma peça de teatro baseada em Romeu e Julieta. 

O quarteto está bem entrosado e demonstra domínio dramático, pois a temática exige mais dos atores. Giulia Benite é a que apresenta o maior alcance dramático porque precisa ficar distante dos amigos em outro colégio. A atriz emociona o espectador por ter que se desfazer de bens materiais significativos para crescer. Não desfazer por completo, somente deixar que outros também ganhem significados reais. Ainda no núcleo feminino, Laura Rauseo é a que apresenta maior evolução em termos de arco no roteiro. A temática é complexa e a atriz consegue transmitir a importância em diagnosticar e procurar ajuda para amenizar a ansiedade, tudo de forma divertida e leve. Já os meninos são menos desenvolvidos e não apresentam maiores contrastes se comparado com o primeiro longa. Kevin Vechiatto é o líder na ausência de Mônica, porém o arco não ajuda na evolução dos personagens. Já Gabriel Moreira é puro carisma como Cascão, porém o personagem fica inúmeras vezes em segundo plano com momentos de desfecho rápidos. 


Um elemento narrativo que é explorado em excesso é a trilha sonora que reforça ainda mais a atmosfera dramática do longa. A direção de Daniel Rezende prioriza em várias cenas o close para ressaltar a atuação das crianças, o que poderia ser suficiente para envolver o espectador, mas em diversos momentos a trilha surge como recurso emotivo e o elemento extrapola o que poderia ser bem mais simples proporcionando a mesma emoção. Aqui a trilha é a verdadeira protagonista que acompanha os personagens em todas as cenas, onde muitas vezes o silêncio seria a melhor opção. No geral, Turma da Mônica - Lições cativa adultos com coadjuvantes marcantes nos quadrinhos e ensina verdadeiras lições para os pequenos. Mônica reflete que não precisa deixar de ser criança para lidar com assuntos de gente grande. Magali consegue controlar a ansiedade e aproveitar cada momento. Cebolinha aceita que cada um possui qualidades que precisam ser ressaltadas e que está tudo bem em deixar algumas questões de lado e priorizar outras que realmente importam. Já Cascão demonstra que o medo é particular e que devemos enfrentá-lo com coragem. O quarteto aprende muito e nos ensina muito mais. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...

O Mito. A lenda. O Bicho-Papão. (John Wick : Um Novo Dia Para Matar)

Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com companhia somente um cachorro e um carro. Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa. Logo na primeir...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...