O longa 438 Dias aborda o drama dos jornalistas, Martin Schibbye e Johan Persson, que entraram ilegalmente na Etiópia, para constatar o que a população local sofria por conta da exploração petrolífera. Após serem capturados e julgados, ambos recebem a sentença de onze anos de prisão. Começa uma luta contra o tempo para que os protagonistas sejam absolvidos e retornem para a Suécia. O roteiro de Peter Birro destaca os conflitos internos dos jornalistas pelo princípio fundamental da profissão: a busca pela verdade. No decorrer do julgamento vídeos são adulterados, áudios inseridos e testemunhas mentem para que ambos sejam condenados. Uma subtrama é explorada com pouco afinco na tentativa de evidenciar ainda mais o drama dos personagens. A mulher de Martin e os pais de Johan entram na trama somente como vínculo afetivo e prolongam o ritmo da narrativa, apesar de Linnéa ser peça chave para reverter a situação, o roteiro não explora devidamente a personagem. A atmosfera de tensão é quebrada pela personalidade dos protagonistas e amizade que fazem com os prisioneiros.
A narrativa lembra bastante outro longa com temática semelhante, O Sequestro de Daniel Rey, porém, em 348 Dias, o espectador se envolve mais com ad atuações. Aqui temos dois atores completamente opostos que atraem o olhar do público. Gustav Skarsgard proporciona a Martin uma postura compenetrada e introspectiva. Cabe ao personagem tomar decisões significativas sendo o lado racional da dupla. Matias Varela interpreta Johan de forma extrovertida ganhando de imediato a empatia do público. Em determinado momento Martin afirma para a esposa que Johan não conseguirá suportar a carga emocional que o trabalho exige ressaltando o lado emotivo de Johan. De um lado temos a razão e de outro a emoção. A junção do trabalho dos atores move a narrativa como um todo. Quando o roteiro foca na vivencia da prisão, vale destacar também o trabalho significativo dos coadjuvantes que demonstram empatia pelo sofrimento dos protagonistas. O coadjuvante que ganha destaque merecido é Faysal Ahmed, como Abdulahi Hussein, que imprime tensão de forma contida para o personagem. O ator é de fundamental importância para o ponto de virada presente na trama e mantém a serenidade de Hussein imposta no primeiro ato.
O figurino é responsável por refletir a personalidade dos protagonistas e gera um breve momento de leveza na narrativa. A primeira cena que Martin e Johan vão para o tribunal, ao receberem as roupas, Johan afirma que uma camisa verde é nitidamente a sua roupa, enquanto cabe a Martin usar o terno. Outro elemento narrativo fundamental para a composição dos personagens é a fotografia. A atmosfera desértica casa com a tensão do trabalho, porém, logo é substituída pela paleta de cores frias da prisão. Interessante perceber a ausência da trilha sonora que destaca o silêncio predominante na tensão dos protagonistas e na agonia que sentem ao saberem da sentença. Já a direção de Jesper Ganslandt alterna uma câmera estática, para momentos mais decisivos voltados principalmente para a expressividade de Gustaf, casando novamente com a personalidade de Martin. E Matias ganha um foco com a câmera mais pulsante e tremida, como na cena em que ambos estão livres. É a balança da razão e emoção refletida na direção. Somente o vai e vem do tribunal torna o ritmo por diversas vezes cansativo. Além de o espectador ter contato com uma narrativa baseada em fatos é de fundamental importância destacar a relevância presente na temática central: a liberdade de expressão. Jornalistas ao redor do mundo perdem suas vidas para que a verdade venha à tona. Martin e Johan ainda continuam defendendo a base do jornalismo: a verdade.
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