Instinto é um filme que aborda uma temática central que de certa forma liga os protagonistas: transtornos mentais. Não fica muito claro o transtorno sofrido pela psiquiatra Nicoline. A mãe de vez em quando dorme na mesma cama que a filha, em posição fetal, explorando uma vertente de super proteção. A protagonista possui dificuldades com relacionamentos afetivos, especialmente ao ser tocada por companheiros. Quando Nicoline começa um acompanhamento com Idris, o sentimento surge aos poucos. O personagem tem um histórico de violência e abuso sexual. Nicoline começa a perceber que Idris manipula os demais profissionais e é contra o retorno do personagem ao convívio social. Durante os atos, a protagonista vive o dilema ao se deixar levar pela manipulação de Idris, mesmo tendo consciência, ela deseja essa manipulação.
O espectador percebe que Nicoline possui traumas mesmo que o roteiro explore pouco ou quase nada dos conflitos internos da protagonista, pela excelente atuação de Carice van Houten. A atriz explora a introspecção da protagonista, uma espécie de casulo, onde a única pessoa que tem permissão de entrar é a mãe. De forma gradativa, a atriz se permite sentir algo por Idris e a abertura intensifica ainda mais o trabalho de Carice. Por ser uma relação complexa, que, posteriormente, se torna abusiva, a atriz empresta um olhar de ternura e tormento que move a trama e prende o espectador. Existe um jogo de sedução entre os personagens centrais e
Marwan Kenzari é o responsável por manter uma atmosfera de tensão e atração entre o casal. O ator utiliza a sinceridade do personagem para explorar um olhar penetrante e sedutor.
Como existe o conflito ético entre o profissional e o paciente, alguns detalhes ligam os personagens pela sutileza. O figurino é de fundamental importância para estabelecer uma abertura maior entre Nicoline e Idris. Apesar da protagonista dizer que o personagem precisa de outro terapeuta, o figurino estabelece o começo de uma relação de toque e afeto. A blusa branca e calça jeans que ambos usam estabelece esse elo. A semelhança na vestimenta reforça a ligação do casal. A direção de Halina Reijn intensifica ainda mais a tensão dos personagens. Os enquadramentos ressaltam os conflitos internos do casal. Em cenas mais tensas, o close na expressão de Carice reforça o olhar feminino ao conduzir a narrativa explorando a instabilidade emocional dos personagens.
O roteiro assinado por Halina provoca o envolvimento do espectador por explorar os conflitos internos do casal e o jogo de sedução entre ambos. As camadas de Idris o transformam em um personagem cristalino. À todo o momento o personagem afasta Nicoline, ao mesmo tempo que existe uma provocação em fazer a personagem tomar a iniciativa do relacionamento. Os coadjuvantes servem de impulso para os traumas vividos por Nicoline. Alex surge como interesse amoroso somente para provocar a ira de Idris. Já Marieke é a ponta de racionalidade na vida da protagonista. Instinto toca em temáticas delicadas buscando o equilíbrio entre a leveza de uma dança e a atração pela violência. Vale destacar que a troca de olhares, a tentativa de ternura e a ameaça do perigo aguardam somente uma faísca para despertar o monstro que habita no interior dos protagonistas.
Comentários