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Entre o clássico e o moderno (Assassinato no Expresso do Oriente)


O poder do texto de Agatha Christie já insere o espectador na trama de Assassinato no Expresso do Oriente, mas o grande desafio era fazer uma adaptação que não deixasse o público refém pelo fato de conhecer o desfecho. Kenneth Branagh conseguiu alcançar o feito e proporcionou ao espectador um suspense com reviravoltas precisas. Para quem não teve o contato com a obra literária, o filme poderá proporcionar um impacto maior.

Hercule Poirot, o melhor detetive do mundo, digno de um bigode que diz muito sobre sua personalidade e que deixaria Henry Cavill com inveja, além de ser o protagonista tem como intérprete Kenneth Branagh. E ter a trama centrada em Branagh faz toda a diferença. O ator que sempre se mostrou competente em diversos trabalhos, aqui domina cada cena e sabe da responsabilidade e peso do protagonista. A trama gira em torno dos passos de Poirot e como aos poucos ele desvenda pistas junto com o espectador. O público acompanha as várias camadas do arco do personagem proporcionadas por Branagh. Logo no primeiro ato sabemos muito sobre a apresentação de Poirot em cenas de ritmo ágil. A personalidade caminha lado a lado e é parte fundamental para que o detetive desvende o mistério sobre o assassinato de Edward Ratchett.

Temos Kenneth Branagh e o restante do elenco. O diretor precisava se cercar de atores competentes e assim o fez. Claro que o roteiro de Michael Green não poderia e não teria tempo suficiente para explorar o arco de todos os personagens, mas o pouco que sabemos de cada um é o suficiente para criar a atmosfera que o filme necessita. Os destaques ficam para a ótima interpretação de Michelle Pfeiffer como Caroline Hubbard e Josh Gad que proporciona ao público um lado mais dramático após LeFou de A Bela e a Fera. Mesmo que alguns atores tenham pouco tempo em tela, no contexto geral do roteiro, os atos são interligados de forma competente.


A direção de arte nos transporta imediatamente para uma trama clássica com requintes modernos. Todos os elementos cênicos refletem o cuidado detalhado para que o espectador seja inserido em uma obra de Agatha Christie. Personagens caricatos e a trilha composta por Patrick Doyle sempre acompanha o espectador alternando com o ritmo ágil do primeiro ato e momentos mais leves quando Poirot interroga os suspeitos. A direção de Branagh explora ao máximo o trem com ângulos de câmera diferenciados. Takes vistos de cima e a utilização da imagem duplicada dos personagens reforça o tom de mistério.

Assassinato no Expresso do Oriente envolve o espectador pelo mistério que aos poucos é revelado à medida que o protagonista insere camadas mais densas ao personagem. A trama gira em torno de Poirot e dos demais coadjuvantes competentes. Com um texto extremamente preciso, o espectador imediatamente é mergulhado na trama repleta de suspense. O filme traz consigo aspectos que o deixam mais interessante como se posicionar entre a modernidade dos recursos visuais e o requinte clássico presente em uma obra de Agatha Christie. 

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