Fabrício Boliveira como coadjuvante? Sim, em Breve Miragem de Sol, o ator é o protagonista, porém em muitos momentos ele reforça o papel de coadjuvante. Como motorista de aplicativo, a cada passageiro que paga uma corrida, o ator estabelece a relação de ouvinte. No decorrer da narrativa realidade e ficção reforçam esse aspecto, ao fechar a porta, Paulo vivência o cotidiano de vários personagens reais. Aspectos abordados no roteiro são claramente retirados da vida real como: tirar fotos para turistas, ter o limite testado por passageiros bêbados e de vez em quando trocar números para que a relação motorista / passageiro se transforme em afeto e empatia.
O olhar de Eryk Rocha mescla realidade e ficção com uma câmera documental que acompanha os passos do protagonista. O close no olhar dos atores torna o filme intimista e aproxima o espectador do aspecto realista proposto. Na cena em que Paulo faz uma pausa para comer o diretor liga a câmera e deixa os atores estabelecerem uma relação com personagens reais. O destaque fica pela ponta de Xando Graça imprimindo leveza e humor.
O roteiro proporciona camadas importantes para que Fabrício trabalhe a humanidade de Paulo. Existe uma melancolia no olhar do ator que abraça por várias cenas o papel de coadjuvante. Esse aspecto intensifica a humanidade do protagonista que silencia os conflitos internos para dar voz aos demais. Karina é a voz feminina importante na trama vivida com ternura por Barbara Colen. A saudade é o elo entre os personagens, enquanto Paulo desabafa por conta da ausência do filho, Karina sente a distância da mãe. Breve Miragem de Sol utiliza uma fotografia com paletas frias para reforçar o distanciamento do filho e a solidão do protagonista. As cores quentes surgem quando Paulo reencontra o pequeno. Realidade e ficção caminham juntas neste tocante longa nacional que explora uma temática crescente no Brasil proporcionando voz para trabalhadores que muitas vezes são invisíveis no banco da frente.
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