Se durante os anos 80 Arnold Schwarzenegger era o astro em ascensão dos filmes de ação, o ator também explorou outra vertente na comédia Um Tira no Jardim de Infância, que foi um clássico da sessão da tarde e mostrou ao público uma cartilha voltada para os atores fortões. Todo ator que se encaixava no estereótipo precisa ter um filme infantil para chamar de seu. Em Aprendiz de Espiã Dave segue a cartilha e faz um filme de ação com temática próxima ao de Arnold. Dave Bautista é um agente da CIA que recebe a missão de monitorar os passos da família de Shopie. O pai da garotinha tinha envolvimento com terroristas e após ele morrer quem fica no lugar é o tio. O tio persegue a família da protagonista e Dave precisa protegê-la. Durante os atos a proteção transforma-se em zelo e afeto.
Dave segue a cartilha, porém o ator se destaca pela versatilidade. Na filmografia de Bautista predominam filmes voltados para o gênero, mas também existem personagens diversificados com diretores autorais. Foi assim em Blade Runner 2049 e no universo Marvel. Além da versatilidade do ator, o que realmente precisa funcionar neste projeto é a química entre os protagonistas. O grande problema é que a química existe, mas é baseada no excesso. Dave é o cara durão com zero sensibilidade e que aos poucos tenta superar os conflitos internos com a ajuda de Shopie que também passa por momentos difíceis. O ruído que prejudica a química entre os atores é a pausa após um momento cômico, recurso já explorado pelo ator em Guardiões. No filme da Marvel Dave tinha outros atores para interagir com o personagem proporcionando uma variação cômica dentro do gênero. Cada membro do grupo possuía um timing e Dave não estava só. Em Aprendiz de Espiã o ator está acompanhado de Chloe Coleman que faz a típica adolescente problemática. Não existe variação no humor e o espectador sente o cansaço.
Outro problema que causa excesso na narrativa é justamente insistir em uma atmosfera cômica, que a princípio provoca imersão no espectador, porém perde força no decorrer dos atos. Por falar em força podemos destacar a ausência dela no arco do vilão. O personagem surge de forma conveniente em momentos específicos da trama. Vale mencionar um plot twist totalmente aleatório envolvendo uma certa dupla que contribui para diferenciar o timing no humor, porém a reviravolta nos personagens demonstra a falta de senso ao conduzir o arco dos mesmo provocando uma quebra abrupta e desnecessária na trama. A direção de Peter Segal é mediana nas cenas de ação, pois o foco realmente é a interação de Chloe e Dave. Neste aspecto o filme proporciona altos e baixos destacando o jogo de imersão e distanciamento na narrativa. No desfecho podemos concluir que Dave apenas seguiu a cartilha de Arnold.
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