Sempre que serial killers são retratados na tela grande a polêmica sobre proporcionar holofotes aos assassinos vem à tona, porém em Charlie Says o olhar é diferenciado. A trama foca em três personagens femininas, as seguidoras de Charlie Manson, e como o olhar feminino de Marry Harron na direção transforma a temática. Claro que Manson possui evidência, o personagem é o exemplo perfeito de como um coadjuvante movimenta a trama, porém o filme é todo feminino e quem ganha com esse enfoque é o espectador. As mulheres moram no rancho e o idolatram com uma cegueira inexplicável. O filme não tenta justificar nenhum ato extremo do grupo, o trunfo de Charlie Says está em explorar a transformação das personagens e como a psicopatia de uma pessoa pode influenciar no comportamento de todos ao seu redor.
O roteiro toca em temáticas conhecidas do espectador para desenvolver o arco das personagens. Faz-se necessário ressaltar a loucura de Manson e como a cabeça de um psicopata funciona. Cada passo de Manson reflete no comportamento das protagonistas. Como o fato de Charlie ter uma ligação com a música o frustra a ponto de influenciar no comportamento de todos ao afirmar que ele seria o quinto Beatle e que uma revolução estava por vir baseada em Healter Sketlter. O personagem sabia manipular as mulheres do grupo. Ao longo dos atos essa manipulação se faz presente em um comportamento abusivo. As mulheres eram submetidas à um comportamento controlador até chegarem ao ato extremo de matar em nome do mestre. Não existe pudor ao ressaltar as temáticas envolvendo sexo, drogas e violência. Em determinados momentos Leslie possui lucidez para questionar o coadjuvante que logo a repreende. Catar comida nos lixos e viver uma falsa liberdade estão nos mandamentos de Charlie. Até certo ponto, pois quando Charlie recebe a visita de um produtor musical, matar um animal é cogitado. Leslie é a única que percebe a contradição no ato. "Vamos sacrificar o animal? Mas não é contra o que Charlie diz?". Patricia é enfática ao afirmar: "Não questionamos, somente obedecemos." O racismo de Manson também é explorado quando os assassinatos surgem na trama. É preciso fazer uma revolução étnica, para isso os roubos precisavam parecer "coisa de preto". Outra coadjuvante de destaque é Karlene vivida pela excelente Merritt Wever. Ela é fundamental para que o espectador perceba o que aconteceu com as jovens no rancho. O título original é repetido a todo o momento como se fosse um mantra. Em várias cenas as atitudes são justificadas pela frase: "Charlie disse...", e assim, o arco do trio de jovens é retratado de forma intensa na trama. Os atos são explorados de forma coerente. No primeiro, a atmosfera é mais leve retratando o cotidiano no rancho. No segundo, os abusos de Charlie surgem de forma mais contundente porque existe a frustração do coadjuvante em não conseguir gravar um disco. É no terceiro que a loucura vem à tona com força para retratar os assassinatos. Existe um equilíbrio presente na personagem de Merritt que busca a lucidez do trio.
O foco é no trio de jovens, porém os coadjuvantes são fundamentais no desenvolvimento do arco das personagens. Impossível não destacar o trabalho de Matt Smith como Manson. Ele proporciona ao personagem um equilíbrio necessário para compor a personalidade do serial killer. Ele cativa as mulheres com um timbre específico na voz, sem falar de todo o aspecto corporal do ator nos momentos de loucura. O destaque do trio fica por conta de Rosie Bacon como Patricia. A personagem é claramente a mais afetada psicologicamente, não sei se é possível mensurar o dono causado no trio, mas a forma como a atriz compõe a personagem deixa evidente o grau máximo da lavagem cerebral que Patrícia sofre. O olhar catatônico de admiração mesclado com momentos de lucidez faz Susie ser o destaque. Hannah Murray é um misto de inocência e perplexidade. É possível ver a construção da manipulação e o medo que Charlie exerce sobre Leslie. Já Marianne Rendón é a que possui o arco menos desenvolvido, porém o trabalho da atriz talvez seja o mais interessante do trio, pois a atriz transmite um estado de entorpeção, como se tudo estivesse perdido. Ela é a primeira que saí do transe e percebe tudo o que fez em nome de Manson.
A direção atenta de Mary Harron foca no olhar feminino sem pudor para transmitir ao espectador toda a sensação e loucura que foi ser parte da seita de Manson. Existe um cuidado ao explorar a visão das três protagonistas ao mesmo tempo em que a diretora intensifica a insanidade do coadjuvante. É louvável mostrar o outro lado, um lado mais humano, o lado de como as jovens eram antes e depois ao acordarem para a realidade. A fotografia também auxilia e torna palpável a loucura que era viver no rancho. Um simples olhar de Manson paralisava as jovens e as transformava em meras servas. A trilha se faz presente muito por conta do lado musical do psicopata e alterna certa leveza e intensidade para as cenas. O que torna Charlie Says um filme diferenciado dos demais é justamente o outro olhar, um olhar feminino na direção que consegue captar a transição entre a loucura e a sanidade.
A direção atenta de Mary Harron foca no olhar feminino sem pudor para transmitir ao espectador toda a sensação e loucura que foi ser parte da seita de Manson. Existe um cuidado ao explorar a visão das três protagonistas ao mesmo tempo em que a diretora intensifica a insanidade do coadjuvante. É louvável mostrar o outro lado, um lado mais humano, o lado de como as jovens eram antes e depois ao acordarem para a realidade. A fotografia também auxilia e torna palpável a loucura que era viver no rancho. Um simples olhar de Manson paralisava as jovens e as transformava em meras servas. A trilha se faz presente muito por conta do lado musical do psicopata e alterna certa leveza e intensidade para as cenas. O que torna Charlie Says um filme diferenciado dos demais é justamente o outro olhar, um olhar feminino na direção que consegue captar a transição entre a loucura e a sanidade.
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