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A moral que move a personagem (Segredos Oficiais)


Segredos Oficiais explora a vida de uma simples tradutora Katherine Gun. A personagem trabalha há dois anos no departamento da Agência de Segurança Nacional. Ao receber um memorando secreto, a personagem enfrenta um dilema que pode envolver não somente a permanência no emprego, como também expor seis países com relação a invasão no Iraque. O documento prova que os países estavam sofrendo pressão para apoiar a invasão. Katherine decide entregar uma cópia do documento para uma conhecida que vaza a informação na imprensa. Após o vazamento, a vida da personagem vira um tormento psicológico. 

O roteiro assinado pelo diretor do longa Gavin Hood explora os momentos tensos vividos pela personagem ao vazar o documento para a imprensa. Existe no filme um balanço e equilíbrio dentro do roteiro sobre as consequências do vazamento. Todas as ações possuem o tempo necessário para serem exploradas com o intuito de prender a atenção do espectador. O resultado é o aumento da tensão na trama é a conexão entre os núcleos dos coadjuvantes. É um verdadeiro efeito dominó que atinge a todos, inclusive o marido de Katherine. As imagens de arquivo corroboram com o andamento da narrativa é auxiliam cada vez mais na decisão da personagem. O núcleo jornalístico retoma os velhos tempos da profissão voltada para a investigação. Além das dificuldades e sigilo da fonte, um fato inusitado coloca a matéria em xeque: A ortografia presente na matéria releva que a fonte pode ser americana e que as informações são duvidosas. O que realmente aconteceu é que a estagiária do jornal passou a matéria no revisor do jornal e as letras foram trocadas. Um fato que explora o teor cômico perante a tensão existente no roteiro. Um momento pontual que proporciona alívio para o espectador. 

Para auxiliar na tensão do longa a fotografia explora não somente uma Londres gélida propícia para a temática. A tensão aumenta gradativamente e a paleta de cores frias instiga a intensidade no jogo de informações existe no roteiro. O mesmo acontece com a maquiagem e figurino. Katherine não usa maquiagem e durante os atos a personagem fica com a expressão cada vez mais pálida por passar noites em claro sem saber se vai ser presa. A maquiagem aparece perto do desfecho no julgamento. O figurino durante todo o longa é basicamente azul escuro e cinza. Quando a personagem vai a julgamento o rosa claro aparece ressaltando o alívio de Katherine. O tom mais neutro no figurino também está presente nos coadjuvantes. Outro elemento narrativo que surge em momentos de reviravoltas é a trilha sonora que  evidencia o aumento da tensão entre os núcleos e coadjuvantes. 


A direção de Gavin Hood é precisa ao explorar o zoon in em momentos específicos para destacar as reviravoltas do roteiro. O primeiro surge para evidenciar a interpretação dos atores, principalmente, quando a moral de alguns é colocada a prova. A montagem dialoga com a direção para apresentar ao espectador imagens de arquivo reforçando as atitudes dos personagens. A partir do momento em que Katharine decide vazar a informação todos os personagens são protagonistas. O efeito dominó atinge todos os arcos e cada ator é explorado de forma equilibrada.  A investigação jornalística toma metade da trama e a espera pelo julgamento é explorada nos demais atos. Keira Knightley funciona no papel de Katherine, pois apresenta uma tensão contida. Mas além da atriz, os coadjuvantes movem de forma competente a trama. O destaque fica para a participação especial de Rhys Ivan e como jornalista sem credibilidade que consegue comprovar todas as informações para a matéria. O que move a trama é moral da personagem que decidiu arriscar a vida de todos ao seu redor para mostrar ao mundo as motivações de uma invasão que somente tinha como justificativa o lucro. 

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