O Juízo marca uma nova vertente de filmes de gênero no cinema nacional. O longa explora uma trama sobrenatural focada nos conflitos internos de Augusto Menezes. A câmera de Andrucha Waddington intensifica a atmosfera de suspense ao longo dos três atos. Com uma movimentação que explora de forma intensa o casarão onde Augusto se refugia, o espectador se deixa envolver até certo ponto. O diretor utiliza a diversidade de enquadramentos e intensifica ao máximo o primeiro plano para extrair a expressão de tensão na atuação do elenco. No decorrer do filme Andrucha trabalha a mise-em-scène de maneira eficaz evidenciando em determinados momentos de cunho sobrenatural a presença de atores ao fundo desfocados. Além da direção que capta a tensão do ambiente e personagens, a trilha sonora corrobora de forma enfática para o suspense existente na trama. Ela é responsável pelo incômodo que persiste e envolve todos os personagens. A fotografia também é explorada de forma eficaz e natural deixando o ambiente na penumbra reforçando a atmosfera do longa e o constante isolamento dos personagens.
O roteiro peca ao afastar o espectador do filme como um todo. Os personagens são monossilábicos gerando cenas que transmitem a sensação de que algo está inacabado. Os coadjuvantes surgem para acrescentar corpo ao arco do protagonista, porém ao longo de todo o filme as cenas evidenciam a quebra de ritmo no filme proporcionando um desconforto que ao ser inserido no contexto da atmosfera criada pelo diretor cria um choque de linguagem entre fala e ambiente. As pausas no roteiro e encerramento das cenas causam a sensação de incongruência gerando um desconforto pela ausência de desenvolvimento dos personagens. Deixar no ar a inquietação dos personagens com falas soltas não corrobora com a atmosfera criada pela direção, muito pelo contrário, provoca a sensação de um suspense vazio sem força e motivação para os personagens. Os núcleos de Fernanda Montenegro e Fernando Eiras são fundamentais para a compreensão e o debate entre fé e ciência. Maria Amarantes e Dr. Lauro são coadjuvantes que poderiam auxiliar de forma decisiva na trajetória de Augusto entre os atos, mas não recebem o devido desenvolvimento no roteiro de Fernanda Torres. Já o arco de Criolo gera suspense pelas aparições esporádicas de Couraça. Quanto menos sabemos do personagem, melhor ele fica para instigar o imaginário do espectador.
Apesar da falta de desenvolvimento presente no roteiro, os atores estão proporcionam ao espectador a atmosfera de suspense que Andrucha cria ao longo do filme. Felipe Camargo está entregue ao sofrimento e delírio do protagonista. A angústia e calma que o ator empresta para Augusto são características que auxiliam na transição entre as ilusões e realidade nos atos. O olhar perdido de Felipe gera angústia no espectador. Já Criolo compreende perfeitamente as nuances de Couraça. O ator apresenta um sorriso perturbador que reforça o cunho sobrenatural da trama. Joaquin Torres Waddington é a naturalidade de quem realiza o primeiro trabalho. Carol Castro apresenta um trabalho diferenciado, porém é prejudicada pela interrupção das cenas, seja pela fuga do marido ou por diálogos somente geram conflitos internos para a personagem. O Juízo possui uma direção competente e os elementos narrativos criam o suspense sentido pelo espectador, o grande problema está na falta de desenvolvimento dos personagens que interagem entre si de forma solta provocando constante quebra de ritmo no filme. Se o roteiro fosse mais enxuto e direto O Juízo seria um excelente curta-metragem.
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