Com o surgimento do movimento Dogma (95), Thomas Vinterberg inspirou cineastas ao propor em Festa de Família uma tríade pulsante: direção, atuação e roteiro. O filme girava em torno da festa de aniversário do patriarca da família e no decorrer dos atos os segredos de todos eram revelados. Eis que Festa de Aniversário segue a mesma cartilha apresentada por Thomas, porém, extremamente inferior. No lugar do patriarca temos Catherine Deneuve como figura materna zelosa que finge cegueira para os problemas que surgem no decorrer da trama. Cada irmão ao chegar à casa finge harmonia. A proposta inicial é demonstrar a leveza na interação familiar, porém, com a chegada da filha, a previsibilidade logo dá sinais e acompanha o espectador.
Assim como no filme de Thomas, Cédric Kahn praticamente deixa a direção nas mãos dos atores. Vinterberg possui autoria e é preciso nas reviravoltas propostas no roteiro de Festa de Família. Já Cédric deixa a direção fluir e falta autoria ao conduzir à trama. A sensação que se tem é que o diretor simplesmente ligou a câmera e registrou cada cena. O roteiro também do diretor explora a previsibilidade em todos os personagens. Romain é o filho que insiste em não crescer; Claire, a filha ausente com problemas psicológicos e Vicent, o irmão mais velho, que beira à sanidade, mas que irá sucumbir à loucura da família. O núcleo de coadjuvantes não acrescenta a trama e ressalta falhas presentes no roteiro. O namorado negro de Emma é deixado literalmente de lado, em alguns momentos o personagem proporciona leveza ao tocar piano. A única maneira que Cédric encontra para explorar o personagem é quando ele é acusado injustamente de roubo. O desenrolar do personagem poderia exaltar o arco do ator, porém, o roteiro o torna invisível.
O destaque fica por conta de dois personagens, os mais problemáticos movem a trama. Vicent Macaigne vive um cineasta com crise de criatividade que tenta fazer cinema no pior estilo documentário experimental. A câmera de Romain capta os conflitos e nuances da família, ao mesmo tempo em que enaltece o teor cômico do filme. Cabe à Emmanuelle Bercot roubar todas as cenas como Claire. A atriz interpreta uma personagem complexa e repleta de tormentos. A atriz proporciona rompantes e instabilidade emocional para Claire. O espectador permanece tenso, pois nunca sabe o que a atriz irá apresentar em tela. Não é por acaso que o filme a torna protagonista. No desfecho podemos reassaltar que a única semelhança com o filme de Thomas Vinterberg é a temática. Infelizmente, o filme de Cédric proporciona ao espectador um emaranhado de clichês com toques de humor e caos. Uma pena que a presença marcante das atrizes Catherine Deneuve e Emmanuelle Bercot não salva o filme da monotonia e previsibilidade familiar.
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