A Economia do Amor possui algumas características que podem
incomodar o espectador: monotonia, brigas intermináveis, o desgaste de uma
relação, o cansaço ao lidar com as filhas pequenas e a perda do amor que era o
laço de união do casal.
Marie divide os cômodos da casa com Boris. Os protagonistas estabelecem um acordo até
decidirem os trâmites jurídicos do divórcio. A sensação de ver o cotidiano estampado na tela de forma crua
e verdadeira pode causar estranheza ao público. E acredito que essa é a real intenção do
diretor Joachim Lafosse: confrontar o espectador com o cotidiano e ao término
acreditarmos que nada relevante aconteceu. Simplesmente, a vida aconteceu.
Os vários elementos da narrativa
auxiliam no trabalho do diretor ao conduzir a trama. A impressão que se tem é
de que a economia não está presente somente no desgaste do amor e no título, mas também
durante toda a projeção do filme. A história pode transparecer que o espectador
está diante de uma temática simples, mas A Economia do Amor é repleto de cuidados.
Podemos ver pequenas decisões na composição da mise- en- scène que fazem toda a
diferença e transformam o filme em algo maior do que ele realmente pretende ser.
O delicado trabalho de Joachim fica nítido nos mínimos detalhes. O diretor explora cada cômodo sempre
com algum objeto dividindo a tela para transmitir a sensação de incômodo com o
desgaste da relação do casal. A câmera acompanha os passos dos protagonistas
intensificando o sentimento de estarmos vendo dois estranhos que dividem o mesmo
teto. Sempre quando existe uma aproximação muito presente na figura de Boris, a movimentação dos personagens é proposital para causar o choque e ressaltar a irritação dos protagonistas.
A fotografia também possui um papel importante na
trama. Nos momentos mais descontraídos com as filhas do casal, algumas cenas
são no jardim da casa. Um local amplo que transparece a ideia de inocência e
liberdade das gêmeas. A paleta de cores fica mais escura quando foca no casal e o drama é mais intenso. A direção de arte reflete o
aprisionamento dos personagens dentro da casa. Boris não possui um quarto, o diretor explora o protagonista sempre transitando por vários cômodos
da casa dando a impressão ao espectador que ele domina o local, mas que não pertencer a ele.
O filme ressalta a sensação de monotonia
justamente pela temática explorada no roteiro. O desgaste da relação do casal
se resume em brigas constantes por coisas pequenas, sempre
enfatizando a doação maior de uma pessoa perante a outra. Pontos
específicos fazem a trama ganhar fôlego. A cena em que a família toda dança na
sala é tocante e representa que ainda existe o resgate de um pouco do afeto que
um dia era o laço do casal. A cena reflete a ternura somente com o gestual. Fica
evidente a "economia" das palavras. As imagens transmitem a dualidade do amor.
Ele ainda existe, mas a tristeza evidência que há muito tempo ele foi deixado
para trás. Algumas cenas poderiam ser facilmente descartadas da trama, como a
da reunião com alguns amigos do casal e a figura materna de Marie. Somente ressaltam o desgaste da relação dos personagens que fica nítido para o espectador
logo no primeiro ato. A trilha sonora pontua momentos importantes na trama. A
presença do som diegético é constante e também ressalta a rotina dos protagonistas.
Bater a porta com força, o banho na banheira,o barulho das chaves e subir escadas, todos os elementos transmitem a ideia do aprisionamento da rotina do casal.
A Economia do Amor incomoda por ser transparente em
excesso ao demonstrar o rompimento e a tentativa do resgate de uma relação que
acabou com o tempo. Marie mostra para Boris papeis que resumem os quinze anos
do casamento. Números e sentimentos. O desfecho didático demonstra que os
números prevalecem, mas Boris indaga a esposa com perguntas significativas : E
o amor? Como mensurar o sentimento?
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