A Resistência de Inga foca no estudo de personagem da protagonista que ao perder o marido encontra motivos para continuar a viver enfrentando o monopólio da empresa local. Mesmo quando o marido ainda era vivo, Inga sabia que existia o monopólio e que os donos das fazendas locais eram reféns de todo esquema realizado por Eyjolfur. O diretor Grímur Hákonarson explora ao máximo o plano geral para ressaltar a melancolia e o vazio da protagonista. Interessante perceber com a mise-em-scène dialoga perfeitamente com a solidão da personagem. A cama está vazia mesmo quando Inga está na companhia do marido. Existe uma divisão que na ausência de Bjössi fica mais evidente. E quando ela se vê literalmente só prefere dormir no sofá. Além dos detalhes que reforçam a separação de corpos dos personagens, Grímur faz questão de posicioná-los separados em diversos momentos ao longo da narrativa ressaltando o confronto de Inga com o chefe da empresa. O diretor também explora a centralização dos personagens. Existe uma emoção contida que é sentida pelo espectador na organização cênica proposta por Grímur. Assim como fez em A Ovelha Negra , aqui o local é de fundamental importância para a compreensão da personagem. O plano geral de uma fazenda isolada e fria contribui para a percepção do espectador sobre os conflitos internos de Inga.
Os elementos narrativos também auxiliam na composição do arco de Inga. No primeiro ato o figurino da protagonista é voltado para cores mais frias e aos poucos o laranja ganha destaque no desfecho. Quando a protagonista se arruma ao olhar no espelho uma maquiagem discreta surge em seu rosto. Outro elemento narrativo fundamental é a trilha sonora que muitas vezes casa com o som diegético das máquinas. O que faz de A Resistência de Inga um filme minialista, mas repleto de emoção é a interpretação de Arndís Hrönn Egilsdóttir. Com um olhar que mescla determinação e melancolia, a atriz ganha o espectador no primeiro momento que Grímur a focaliza em um close. Em várias cenas o diretor alterna o close e primeiro plano, pois sabe da força que a atriz possui em cena. O ritmo contemplativo faz o espectador sentir toda a introspecção de Inga.
O roteiro prioriza o estudo de personagem e nos atos o diretor explora a transformação de Inga. No primeiro ato a protagonista tenta estabelecer um diálogo com o marido, mas logo é interrompida. Inga auxiliava na administração da fazenda mesmo não tendo voz. A morte do marido a fez renascer e ter forças para enfrentar não somente o monopólio de uma grande empresa, como também assumir o protagonismo na vida. Grímur explora de forma sabia as camadas da personagem de forma intimista. Ele a faz tomar as rédeas da própria vida sem apelar para frases de efeito ou discursos que confrontam o sexo oposto. Inga mostra que é uma pessoa determinada e que possui voz pelas suas atitudes. Grímur explora um estudo de personagem riquíssimo que torna visível o protagonismo feminino de forma minimalista e potente.
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