Pular para o conteúdo principal

Entre a essência e a modernidade (A Família Addams)


Os personagens mais excêntricos do cinema ganham uma versão animada com um elenco de peso. O espectador de outras gerações ainda mantém no imaginário os filmes estrelados por Raúl Julia e Angelica Huston. Um elenco que marcou pela exatidão com que os atores interpretaram os respectivos papéis. Agora, as novas gerações têm como atores Charlize Theron e Oscar Isaac. A trama gira em torno da dificuldade de adaptação da família em manter um local para morar. Quando a população da região sabe da existência de pessoas com hábitos tão estranhos, logo fazem de tudo para expulsá-los.

Os traços dos personagens estão mais finos, porém as características de cada um permanecem. Durante todo o filme todos mostram excentricidades particulares. Os pais com hábitos nada normais, como morar em um manicômio abandonado e os filhos que brincam de tentar matar um ao outro a todo instante. As subtramas são exploradas de forma equilibrada, assim o espectador não sente cansaço entre os atos. Os pais vivem o dilema de fixar moradia, a filha vive dilemas típicos da adolescência e o caçula precisa provar em um ritual de passagem que é digno de ser um Addams. Além dos personagens conhecidos do público um núcleo novo é inserido na trama totalmente focado na realidade. Margaux comanda um reality show de reformas de casas. O que lhe sobra de criatividade, lhe falta de carinho materno. A personagem deseja reformar a casa dos Addams, mas sabe que para isso acontecer toda a essência da família desaparecerá. Cabe aos filhos tomar as rédeas da situação com suas excentricidades e salvar a família.

O fato de cada personagem possuir seu momento focado em temáticas atuais torna a animação mais envolvente para os pequenos. Porém, o espectador que era jovem na época dos filmes também aproveita vários momentos da narrativa. A trilha sonora logo remete ao tema principal da família. A modernidade também surge quando It entra na trama. Interpretado por Snoopy Dog, a trilha voltada para o rap americano arranca risos do espectador. Outro aspecto que agrada em cheio o público são as referências aos clássicos do terror alternados com filmes de grande bilheteria atual. Wandinha é dona das melhores referências: quando chega em casa com um balão vermelho ressaltando que existe vida fora do manicômio, ou quando ressuscita sapos na aula de ciências.


O que chama atenção na animação é o cuidado dos roteiristas em manter a essência dos personagens e ao mesmo tempo apresentar ao público infantil uma animação com temáticas atuais. A busca pela identidade, a pressão familiar, o questionamento moral e a importância da familia. Apesar de algumas subtramas serem concluídas apressadamente, independente da idade, o espectador observa uma bela interação entre a essência e a modernidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...