Atômica é uma
narrativa com potencial. Tem uma das melhores atrizes de Hollywood como
protagonista, trilha sonora envolvente e um elenco coadjuvante competente.
O que poderia dar errado com todos os elementos no lugar certo para dar ritmo
ao filme? O excesso. Ele sempre acompanha a protagonista. A indústria
cinematográfica gira em torno dos lucros e nesse caso não seria diferente.
Repetir fórmulas é o que move a sétima arte. De tempos em tempos o espectador
tem a oportunidade de assistir algo relevante e diferenciado. Atômica poderia
ter esse diferencial, mas peca ao longo dos atos.
Charlize Theron é uma
agente disfarçada do MI6 e é enviada para Berlim onde precisa recuperar uma
lista perdida de agentes duplos. O roteiro de Kurt Johnstad explora em momentos
intercalados e de forma orgânica a atmosfera da Guerra Fria e a Queda do Muro
de Berlim. São momentos que causam a quebra de ritmo necessária para a trama.
Lorraine é centrada na beleza e presença marcante de Charlize. O arco da
protagonista é explorado de forma simplória, como se o espectador já a
conhecesse de outros filmes. Com apenas alguns fragmentos da vida da
personagem, o público sabe o mínimo possível, o que nos remete aos filmes de
Jason Bourne e seus lapsos de memória. Se o filme proporcionar lucro para o
estúdio saberemos mais detalhes do arco da emblemática protagonista. Os coadjuvantes
proporcionam um ritmo divergente e interessante para dar a trama uma atmosfera
típica de filmes de espionagem. Gray e Emmet intensificam o clima intenso e
envolvente para conduzir o espectador em outro patamar dentro da
narrativa.
O filme peca pelo
excesso principalmente na trilha sonora. Seria um equívoco apontar como
problemática dentro da narrativa uma trilha que abrange o melhor dos
mais variados estilos musicais. A questão é a necessidade desse elemento narrativo em
praticamente todas as cenas. Em diversos momentos, a trilha aparece sem função
narrativa, somente para enquadrar e exaltar a protagonista. O excesso fica
nítido no momento de um plano detalhe em um toca-fitas. O personagem somente
liga o objeto cênico e a trilha sonora toma conta da cena sem nenhum propósito.
O mesmo acontece com a trilha focada na presença da protagonista. Provavelmente
deveria ter uma cláusula no contrato de Charlize enfatizando que em todo
momento que a protagonista faz uma entrada "marcante”, ela seria
acompanhada por uma música de impacto. Funciona perfeitamente em alguns momentos, mas durante
os atos perde força pelos excessos.
Muito do envolvimento
do espectador com a narrativa se dá pela presença marcante de Charlize Theron
como protagonista. O voyeurismo de David Leitch é justificado e enaltece o trabalho competente da
atriz. As coreografias nas cenas de luta intensificam uma provável franquia da
agente Lorraine. Charlize prova que tem competência de sobra para segurar os
demais filmes e proporcionar uma protagonista bem próxima de Jason Bourne, com um acessório marcante: botas. Vale enfatizar
que fazer quase todas as cenas de luta com botas e passar credibilidade....só
uma atriz do porte de Charlize.
Atômica
é um filme com potencial que peca pelo excesso de trilha sonora. Não há
necessidade do elemento narrativo em praticamente todas as cenas. Mesclar
trilha, câmera lenta e a presença da atriz causam ruídos ao longo da narrativa. O belo voyeurismo focado na figura da protagonista já enaltece o filme. O
recurso é eficiente e impactante por si só. Retire o excesso e teremos uma provável franquia promissora pela frente.
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