Predadores Assassinos poderia ser mais um filme de desastre natural como muitos blockbusters de Hollywood. Todo ano um estúdio investe na temática, pois o retorno é garantido nas bilheterias. O filme de Alexandre Aja segue a cartilha dos demais, porém o diferencial está na atmosfera que o diretor consegue imprimir ao filme. Na trama Haley não mantém contato com o pai e continua se dedicando aos treinos para a equipe de natação. Na infância, o pai era o maior incentivador e treinador. Com a separação dos pais cada um seguiu caminhos opostos. A irmã mais velha liga de vez em quando e o pai vive isolado na antiga casa da família. Com a ameaça de um furacão chegando à região, Haley decide ir ao encontro do pai para ver se tudo está bem. A jovem o encontra ferido no porão da casa e, além do pai, ela terá a companhia de vários crocodilos.
O roteiro escrito também pelo diretor destaca o grande chiclê de filmes voltados para a temática: o resgate dos laços familiares. Aqui a trama ganha contornos previsíveis com auxilio da montagem. Nos momentos em que Haley está em perigo, os flashbacks reforçam o vínculo do espectador com o núcleo familiar. Além de toda a questão voltada para a aproximação de Dave e Haley, o espectador deve estar atento para a suspensão da descrença. Como compreender que um ataque arranque o braço de Dave e outro provoque um "arranhão profundo" em Haley? O ataque dos crocodilos nos coadjuvantes faz mais sentido e causa um impacto visual intenso elevando o terror na trama. Alternar momentos de tensão com o drama familiar reforça a previsibilidade, mas ao mesmo tempo proporciona pausas necessárias para uma quebra necessária na tensão. O vínculo emocional com a cachorrinha da família auxilia nos momentos mais dramáticos pela luta na sobrevivência e envolve o espectador por completo no núcleo familiar.
A característica principal de Predadores Assassinos é o teor claustrofóbico que move toda a trama e prende o espectador na poltrona do cinema. O responsável por manter a tensão e a atmosfera desde o momento em que Haley procura o pai na casa é Alexandre Aja. O diretor explora de forma surpreendente os ataques dos crocodilos e intensifica a atmosfera com close nos atores para ressaltar a interpretação de Kaya Scodelario e Barry Pepper. Alexandre cria tensão nos planos longos no intuito de intensificar a individualidade de cada ator em cena. Além da direção, dois elementos narrativos que reforçam também o terror na trama: a fotografia e a trilha sonora. A fotografia com o predomínio de paletas de cores frias provoca automaticamente o envolvimento do espectador para tentar compreender o que acontece na mise-en-scène e os atores em cena reforçam a interação com público durante os atos. A trilha é intensa para auxiliar na claustrofobia, mas existe também o silêncio constante que antecede o medo dos personagens.
Como os atos são praticamente no padrão da casa a tensão maior fica por conta da entrega dos atores. A dupla possui uma química importante para fazer o espectador embarcar na jornada pela sobrevivência de Dave e Valeu. Barry Kepler e Maya Scodelario entregam par o espectador interpretações intensas tanto na questão física quanto na dramaticidade. Existe um afastamento inicial pela ruptura familiar que aos poucos é quebrada pelo instinto de sobrevivência e pelo carinho que ainda existe entre pai e filha. O filme não teria a força em tela se não fosse pela entrega dos atores em cena. A tensão é constante e gradual à medida que as tentativas de pedir ajuda e sair da casa não são bem sucedidas.
Predadores Assassinos esbarra em alguns momentos nos clichês que são verdadeiras armadilhas do roteiro. A ruptura familiar é explorada em diversos momentos ao longo do filme, o que prejudica e muito na quebra da atmosfera criada por Alexandre Ali. Mas o diretor é os atores conseguem superar a previsibilidade e entregam para o público um blockbuster envolvente. Ali cria um ambiente claustrofóbico e com o auxílio dos atores o filme ganha o espectador por completo. Ah, mas e a suspensão da descrença ? Aceitamos pelo blockbuster de qualidade.
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