Pular para o conteúdo principal

Visando fins lucrativos (Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw)


A dupla já trocava farpas em Velozes e Furiosos 7 e o estúdio decidiu lucrar separadamente com os astros em um spin-off. Eis que surge Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw que resgata a aura dos filmes de ação onde os protagonistas são completamente antagônicos. Luke Hobbs é todo largadão, mister simpatia, pai atencioso e que não tem aquele carrão do ano. Já Deckard Shaw é todo alinhado, pura sofisticação, quase não sorri e tem um senhor carro. Foi o que bastou para dar o start e lucrar mais com os personagens conhecidos do público. Personalidades distintas, muita ação, a mocinha em perigo, um toque familiar para trabalhar o arco dos personagens e um vilão com porte de vilão.  Temos mais um filme de ação com o simples propósito de entreter.

No primeiro ato a dupla está em sintonia com o núcleo familiar. Hobbs é um pai zeloso que toma café da manhã com a filha. Ela precisa fazer uma árvore genealógica para a escola e não tem muitos nomes para preencher. Enquanto um protagonista toma café, o outro está em Londres visitando a mãe na cadeia. Com o coração apertado, Magdalene somente deseja que os filhos se reencontrem. Nesse meio tempo o vilão está atrás de um vírus que coloca em risco toda a população mundial. Ao saber da existência do vírus dois agentes entram em contato com Hobbs e Shaw para trabalharem juntos e evitarem o pior. O roteiro introduz a questão familiar no primeiro ato, mas logo ela fica de lado para que a ação seja a verdadeira protagonista. Tudo é voltado para a ação e as farpas trocadas pela dupla. No primeiro momento os diálogos exaltando a diferença de personalidade e briga de egos funciona, porém utilizar esse recurso narrativo a todo o momento entre uma cena de ação e outra fica cansativo e o filme perde o ritmo. Outra dupla que realmente toma o filme para si é Hattie e Brixton. Hattie está com o vírus no corpo e o vilão não vai cansar enquanto não pegá-la. A mocinha foge do estereótipo e não será nenhuma surpresa se surgir um filme solo da personagem. O vilão não possui um arco que impulsione e proporcione motivações inovadoras na trama. E assim o filme segue por um tempo prolongado alternando cenas de ação e diálogos ligados no automático. O terceiro ato é voltado para uma das cenas de ação mais surreais envolvendo carros e um helicóptero. O desfecho fica por conta do núcleo familiar de Hobbs.  

O público teve contato com a dupla na franquia Velozes e Furiosos e mesclar o carisma de Dwayne Johnson com a antipatia de Jason Statham em um spin- off foi um acerto do estúdio. Os atores possuem química em cena, o que não é tão difícil para ambos se considerarmos os personagens interpretados pelos astros de ação em filmes anteriores. O que realmente importa são as coreografias das lutas e tanto Dwayne quanto Jason são bons no gênero. O destaque fica por conta da "mocinha" que possui um elo forte com Shaw. Vanessa Kirby impulsiona as cenas de ação voltadas para a personagem além de proporcionar para Hattie um humor diferenciado se distanciando das típicas mocinhas indefesas. Idris Elba é o superman negro, uma máquina que não mede esforços e consequências para os seus atos. As cenas mais surreais e que elevam a ação do filme são voltadas para o personagem. O ator tem força e presença para intensificar o vilão, mesmo que a motivação não seja a mais inovadora. Não é preciso exigir muito dos atores, mas no geral o elenco eleva a qualidade do filme.


A edição frenética não auxilia na direção de David Leitch. São vários cortes na mesma cena que proporcionam ritmo intenso mais que tornam a mise-em-scène confusa com o excesso de informação e movimentos de câmera. No terceiro ato o confronto final lembra em vários mometos a câmera lenta que o diretor explorou ao máximo em Deadpool 2. A sensação que o filme transmite é de mini video clipe de cada personagem. Existe um padrão de elementos narrativos utilizados ao longo da trama que reforçam essa sensação. Diálogos que exploram a batalha de egos da dupla, cenas de ação e muita trilha sonora.  Seguindo essa tríade, o filme torna-se previsível e até as cenas de ação que poderiam atrair a espectador o afastam por completo. E o que dizer das participações especiais? Elas são exploradas somente para prolongar o filme que poderia ter a duração reduzida e não cansaria o espectador com personagens desnecessários.

Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw explora ao máximo a química entre os protagonistas. A utilização de uma tríade que envolve roteiro, ação e trilha sonora envolvem o espectador até certo ponto. O excesso dos recusos narrativos tornam o filme cansativo e até a química entre os atores fica previsível e batida. Sem falar nos diálogos que quebram o ritmo da ação na trama. É o mais do mesmo visando fins lucrativos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...