Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro. Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.
O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o grupo entra no carro de Ramón Morales, um imigrante que obviamente sofre preconceito de toda a cidade. Após despistarem os valentões, Stella tem a ideia de ir para uma casa assombrada e ao sair de lá leva um livro contento histórias assustadoras. Quando o primeiro desaparecimento do grupo acontece os jovens começam a investigar mais a fundo a lenda da família que morava na casa. A trama é previsível e o roteiro peca ao explorar principalmente a motivação da família de Sarah Bellows. O que realmente provoca o envolvimento do espectador são os arcos do grupo de amigos e o trauma de Stella. Existe uma sintonia interessante entre a protagonista e Sarah que auxilia neste envolvimento. O pano de fundo político ganha destaque em um complemento no arco de Ramóm ao focar na guerra do Vietnã e os traumas de quem retorna. Os adolescentes e os desaparecimentos ganham o espectador por completo e a trama torna-se mais atrativa até chegar ao desfecho.
O primeiro ato começa com a direção de arte tomando conta da cena, inclusive com sucessivos cortes somente para ambientar o espectador na década retratada. Algo interessante de se ressaltar e que vem acontecendo com frequência em diversos filmes é enfatizar o elemento narrativo desviando o olhar do espectador da trama em si. O trabalho da direção de arte é pertencer à trama como uma bela protagonista discreta. O espectador nota nos detalhes das vestimentas, nos carros, nos cartazes no quarto de Stella e no close nos copos de coca o trabalho da direção de arte. A necessidade equivocada de iniciar o filme somente mostrando a direção de arte acompanhada da trilha sonora transforma o elemento narrativo em um protagonista desesperado por atenção. Os cartazes no quarto da protagonista provocam uma poluição visual desnecessária para auxiliar no arco da personagem. O roteiro já enfatiza a questão de Stella gostar de histórias assustadoras, a personagem quase que some na mise-en-scène quando está no quarto de frente para a parede. O mesmo acontece com os copos de refrigerantes. O close torna-se desnecessário. O simples fato dos personagens tomarem os refrigerantes bastaria para tornar evidente o trabalho da direção de arte.
Com um elenco praticamente iniciante e cada um no seu estereótipo determinado, o filme flui bastante na química entre os atores. O elenco também conta com participações especiais, como Dean Norris fazendo o pai zeloso de Setella. Existe certa urgência nas cenas e o elenco possui um ritmo interessante para que a interação não fique confusa. Todos possuem o devido tempo para explorarem cada personagem. O destaque fica para o tom cômico de Austin Zajur como Chuck. O medroso personagem tem as melhores falas do roteiro e possui uma energia importante em cena. Zoe Margaret Colletti intensifica as camadas de Stella e consegue segurar o filme por completo à medida que os amigos desaparecem. O trabalho dos atores também é reforçado pela competente direção do iniciante André Ovredal. Apesar de não fugir da previsibilidade do jumpscare, o diretor consegue criar uma atmosfera tensa para intensificar o envolvimento do espectador. Ao explorar a interpretação dos atores, o diretor utiliza em determinados momentos o contra plongée para proporcionar a sensação de medo dos atores. Nas cenas mais intensas em que a ação está presente o diretor explora ao máximo a tensão de cada personagem. As atuações e direção fazem o filme crescer aos olhos do espectador.
Histórias Assustadoras para Contar no Escuro não consegue fugir da previsibilidade em alguns momentos e abusa do jumpscare reforçando a falta de originalidade durante os atos. Mesmo com certos deslizes, o diretor e elenco conseguem manter o interesse e envolvimento do espectador. A produção de Guilhermo del Toro está evidente nas criaturas que surgem ao longo da trama e proporciona ao filme um atrativo a mais para cativar o público. Com referências explícitas como mostrar A Noite dos Mortos Vivos na tela em um drive in e beber da fonte de filmes antigos, o cartaz lembra e muito A Casa do Espanto, a narrativa ganha aos poucos identidade nas mãos de André Ovredal e mantém o filme vivo para uma provável franquia.
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