Pular para o conteúdo principal

Basta John Wick respirar (John Wick 3: Parabellum)


John Wick perde a mulher e o cachorro. Na realidade os dois fatores bastam para ter uma trilogia. O ponto forte dos filmes sempre foi um quarteto sólido: belas coreografias, estética apurada, trilha sonora e Keanu Reeves. O restante ficou em segundo. Os filmes ganharam força e provavelmente teremos uma franquia duradoura pela frente. O ator já estabeleceu o protagonista para si e conseguirá facilmente protagonizar outros filmes. A premissa neste terceiro filme segue simples focada na trajetória de John. Agora, o protagonista quer somente permanecer vivo para ter como se lembrar da esposa. E, assim, o espectador ganha mais um intenso filme de ação. 

A simplicidade do roteiro faz com que o filme tenha uma fluidez maior na parte estética e nas cenas de ação. John mata Santino D' Antomio, no Hotel Continental, o que é proibido pela Alta Cúpola. Após este aspecto que move a trama no filme anterior, John precisa fugir constantemente de diversos assassinos que querem a sua cabeça. Uma cabeça extremamente valiosa. Durante os atos o protagonista reencontra personagens importantes, outros nem tanto, para o contexto proposto. O protagonista necessita de uma libertação que é concedida pelo diretor, interpretada por Anjelica Huston. Até John conseguir a liberação, o espectador possui momentos de entretenimento com ótimas coreografias. A fama de John é tamanha que atravessa continente. Sim, após a libertação, John vai parar no deserto. E pasmem lá todos querem a sua cabeça. Neste momento da trama John reencontra Sofia. A falta de desenvolvimento no arco da personagem não chega a prejudicar a trama, pois a real motivação é gerar cenas de ação e um momento cômico com cachorros. O roteiro introduz alguns personagens somente com uma clara motivação: atrair o espectador pelas cenas de ação. Todos que auxiliaram de alguma maneira o protagonista aparecem para prestar contas. O destaque fica para o arco do ótimo personagem de Ian McShane que possui uma aura duvidosa levando o espectador a acreditar em suas intenções. Ou seriam interesses? Com um roteiro simples, o filme ganha por completo o espectador.

Impossível falar de John Wick 3: Parabellum sem mencionar alguns elementos narrativos. As coreografias presentes nas cenas de ação não somente movem a trama, como são verdadeiras protagonistas. A dedicação de Keanu Reeves nas lutas intensifica o realismo no filme, o que é primordial para o envolvimento do espectador. O ritmo é constante graças a montagem que também auxilia no realismo das cenas. São planos longos sem os famosos cortes presentes nos filmes atuais. A trilha e fotografia ressaltam a aura estética nas cenas de ação. Vale destacar também a direção de Chad Stahelski que cria uma ambientação importante para preparar o espectador para as cenas de ação. O fato do diretor também ser dublê e estar envolvido nos demais projetos da franquia reforça o olhar atento ao conduzir as cenas. Existe um cuidado ao elaborar as coreografias, pois elas são o cargo chefe e o principal atrativo para o espectador. A utilização de todos os elementos cênicos enriquece a narrativa. Os cachorros, cavalos, motos, carros, facas, tiros, todos os elementos presentes nas cenas intensificam as ações dos personagens. O conjunto enche os olhos do espectador.


O elenco impulsiona a trama de maneira envolvente. Keane Reeves é John Wick. A relação da figura do ator com o protagonista está solidificada. O mesmo acontece com Ian McShame. O ator transmite uma dualidade interessante para Winston. De que lado o personagem está? Do lado que o convém e assistir tudo com perfeita tranquilidade enquanto todos morrem ao seu redor é melhor ainda. Laurence Fishburne retorna em um papel pequeno, mas importante para a continuidade da franquia. A introdução Asia Kate Dillon quebra o ritmo na trama, ela auxilia exclusivamente na ligação para o retorno e introdução de personagens. A forma mecânica e fria com que a atriz compõe a personagem dialoga com sua racionalidade. Todos os personagens são voltados para a ação presente no personagem de Keanu Reeves. Este aspecto fica mais evidente com a introdução de Sofia. A dupla funciona bem nas cenas de ação e os cachorros são os verdadeiros protagonistas do arco da personagem. O restante do elenco complementa bem a trajetória de John durante os atos. 

John Wick não precisa de motivações intensas para protagonizar um filme. A motivação do protagonista é simples e basta para que a ação tome conta da tela. Um determinado personagem serve de auxílio direto para dar continuidade a franquia. Umas pitadinhas de humor no meio do caminho com a condição física de John, um cachorro para chamar de seu, tiros e o que estiver pela frente que sirva de arma. Juntando estes aspectos, a franquia terá vida longa e próspera. Na realidade basta John  Wick respirar. Quer motivo melhor ?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...

O Mito. A lenda. O Bicho-Papão. (John Wick : Um Novo Dia Para Matar)

Keanu Reeves foi um ator que carregava consigo o status de galã nos anos 80. Superado o estigma de ser mais um rosto bonito em Hollywood, o que não se pode negar é a versatilidade do astro ao escolher os personagens ao longo de décadas. Após a franquia Matrix, Keanu conquistou segurança ao poder escolher melhor os personagens que gostaria de interpretar. John Wick é o novo protagonista de uma franquia que tem tudo para dar certo. Um ator carismático que compreendeu a essência do homem solitário que tinha com companhia somente um cachorro e um carro. Após os eventos do primeiro filme, De Volta ao Jogo, Keanu retorna com John Wick repetindo todos os aspectos narrativos presentes no filme de 2014, mas com um exagero que faz a sequência ser tão interessante quanto o anterior. O protagonista volta aos trabalhos depois de ter a casa queimada. Sim, se as motivações para toda a ação presente no primeiro filme eram o cachorro e um carro, agora, o estopim é uma casa. Logo na primeir...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...