O diretor Yen Tan explora a sensibilidade em seus filmes. Com diálogos simples, ele reforça questionamentos que envolvem o espectador no arco dos personagens. Em O Ano de 1985 não seria diferente. O jovem Adrian almeja conquistar novos rumos em Nova York. Ele deixa a pequena e conservadora cidade no Texas e retorna somente para comemorações natalinas. O retorno é repleto de distanciamentos emocionais e reforça vínculos afetivos adormecidos. A tensão e repressão nos sentimentos são exploradas durante os atos. Adrian sente-se aprisionado pelo preconceito familiar e também pelo medo da morte.
O roteiro assinado pelo diretor toca em assuntos importantes e levanta questionamentos para intensificar o arco dos personagens. A fotografia reforça a frieza no núcleo familiar e o aprisionamento dos sentimentos de todos ao redor do protagonista. A temática central gira em torno da volta do protagonista ao ambiente familiar, mas dentro desse contexto várias subtramas são exploradas. O preconceito de uma cidade que tem a religião guiando as ações dos personagens, a epidemia do vírus HIV, o temor pela incerteza e falta de informação, a rigidez paterna, segredos velados, o zelo materno, o conservadorismo político e a catarse do protagonista. O diretor apenas apresenta a introdução de subtramas intensificando o envolvimento do espectador nos conflitos internos dos personagens. As pinceladas no roteiro ressaltam a frieza no tratamento familiar pela figura paterna. Aos poucos o diretor propõe a imersão complexa na vida do protagonista.
A proposta do diretor é explorar ao máximo o aprisionamento dos personagens e as atuações são o reflexo do posicionamento de Yen Tan durante todo o filme. Uma pena que a condução das cenas não favoreça esse aprisionamento, muito pelo contrário, a frieza é transportada na tela pela falta de interação dos personagens. Muitas cenas soam mecânicas e com pausas programadas nos diálogos quebrando constantemente o ritmo nas cenas. A emoção envolvendo a figura paterna é constantemente quebrada pela falta de interação dos atores. É consequência de uma frieza proposital, mas a direção dos atores em cena prejudica o filme por completo. A fluidez transforma-se em leveza com a presença das personagens femininas. Os diálogos perdem a aura mecânica e envolvem o espectador.
A falta de interação entre os atores prejudica muito o ritmo do filme. O ritmo é retomado pela atuação de Virginia Madsen que transmite sensibilidade e leveza aproximando o espectador da falsa submissão da dona de casa. A atriz é o coração apaziguador dentro do núcleo familiar. Outro destaque fica por conta da amiga de infância de Adrian. Jamie Chung intensifica em Carly uma abertura na compreensão dos conflitos vividos pelo protagonista fundamental para o rompimento de tabus na época. O trabalho do núcleo masculino é extremamente prejudicado pela direção de YEN. Cory Michael Smith reforça a introspecção do protagonista na ausência de gestos e diálogos sufocados, mas as pausas constantes são dirigidas de forma equivocada prejudicando consideravelmente o trabalho do ator. Uma pena que a direção não tenha explorado uma introspecção mais leve e solta do protagonista.
O Ano de 1985 é intenso em seu desfecho que reforça a leveza e sensibilidade do protagonista em meio ao caos. Uma pena que a direção peque em repetições constantes de movimentos de câmera e trilha sonora reforçando assim a previsibilidade de elementos narrativos. O espectador compreende o aprisionamento de Adrian muito mais pelo equívoco da direção ao conduzir as cenas do que pelo esforço de Cory ao compor o protagonista. Mesmo com deslizes Yen consegue entregar ao espectador um filme com belos momentos.
Comentários