Crimes Obscuros é um filme que possui todos os elementos narrativos em prol da trama e personagens. Jim Carrey vive o policial Tadek que tenta desvendar um caso arquivado. Os atos da trama envolvem o protagonista em um suspense crescente, mas que não instiga o espectador. Os elementos narrativos dialogam com a instabilidade emocional do protagonista. Jim Carrey reforça sua versatilidade como ator ao compor um policial introspectivo de olhar vazio e extremamente metódico. A trama tenta estabelecer uma conexão com o espectador reforçando a autoria de Alexandros Avranas, mas o distanciamento do público é inevitável.
O filme tem como principal atrativo a autoria de Alexandros Avranas. O diretor ressalta a simetria nos planos dialogando com a frieza estabelecida entre os personagens. O primeiro plano também é destaque para intensificar a aura de suspense principalmente nas cenas de interrogatório. Avranas trabalha com o silêncio e ausência de diálogo no ambiente familiar como se a casa tivesse somente vultos e sombras mergulhados no caos interno de Tadek e Maria. O afastamento e frieza do casal é intensificado pela edição de som. O silêncio invade a casa e reforça o elemento narrativo pelo constante bater de portas e o som de talheres enfatizando o aspecto metódico do protagonista.
Além da autoria de Alexandros, a presença de Jim Carrey com um personagem mais introspectivo enfatiza o suspense na trama. O protagonista possui uma aura mais obscura graças ao trabalho do ator e figurino. A ausência de cor no figurino intensifica a frieza e faz com que Alexandros foque exclusivamente no rosto de Carrey. A atuação de Jim Carrey cria uma cadência de isolamento entre os personagens. Mesmo sem saber muito sobre o arco do protagonista, o ator intensifica as camadas de Tadek. Os elementos narrativos, em especial a fotografia, auxiliam na construção obscura do protagonista. Uma pena que os coadjuvantes não provoquem interesse como Tadek. É o que acontece quando Jim contracena com Marton Csokas. O ator reforça trejeitos caricatos para o personagem e proporciona um ritmo mais lento para as cenas em que o personagem ganha destaque. Investir no confronto dos personagens enfraquece a trama.
Se os elementos narrativos contribuem para gerar o suspense na trama, o mesmo não acontece com o roteiro. Saber pouco sobre o protagonista gera tensão no decorrer dos atos, mas a trama central perde força no vai e vem dos personagens e nas intensas batidas de porta. Gerar suspense não significa necessariamente extrair o envolvimento do espectador. Quando o ritmo fica mais intenso na terceiro ato com revelações propostas no roteiro, porém, o envolvimento do espectador é reduzido e a trama torna-se monótona. Focar o suspense no personagem de Marton prejudica consideravelmente a trama. O ator não consegue impor a aura necessária para o personagem e afasta o espectador do suspense gerado no roteiro.
Crimes Obscuros possui elementos narrativos que auxiliam no suspense proposto na trama, mas se perde com um roteiro que gira em torno de um personagem desinteressante. Marton exagera no tom caricato do personagem e afasta gradativamente o espectador da trama. Jim Carrey tenta envolver o espectador novamente com a construção precisa do protagonista, mas nem mesmo o trabalho competente do ator provoca interesse no espectador. Crimes Obscuros é o exemplo perfeito de elementos narrativos que convergem em prol da trama, mas se um deles está fora do tom contamina o todo. Sabe o caso da fruta podre que contamina as demais? Crimes Obscuros tem uma fruta podre!!!
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