Capitã Marvel finalmente ganha um filme solo dentro do universo cinematográfico da Marvel. Com alguns anos de atraso, pois a protagonista poderia ter um filme para chamar de seu junto com os primeiros vingadores. Se a personagem fosse explorada com mais detalhes e tempo a identificação com todos os públicos seria maior. Capitã Marvel é um filme refém do universo compartilhado criado pelo estúdio. É o típico filme de ligação para introduzir uma protagonista feminina de peso na equipe. Ser parte do universo não é um problema em si, pois temos o ótimo Pantera Negra para comprovar que um filme solo pode e deve ter a força necessária dentro do universo. Capitã possui força na representatividade para um nicho, assim como Pantera, mas em termos de qualidade ele fica aquém do que estúdio poderia entregar para os fãs da Capitã.
A trama se passa no início da década de 1990, onde Carol Danvers literalmente caí em uma vídeo locadora. Com flashbacks do passado e uma ameaça vinda da Galáxia, a protagonista tenta compreender o seu passado e salvar o mundo. O cuidado do design de produção é nítido para inserir o espectador na época retratada. Blockbuster, os carros, figurino, trilha sonora, a lentidão da internet e jogos de fliperama. Tudo voltado para destacar a nostalgia. O problema é que o cuidado com o design de produção é simplesmente jogado em momentos fora do timing cômico no roteiro. O elemento narrativo que mais evidência esse aspecto é a trilha sonora. Composta basicamente por vocalistas femininas, ela a todo momento transmite a sensação de estar deslocada da trama. São músicas que não dialogam com o contexto proposto, principalmente na cena perto do desfecho que mais atrapalha do que auxilia no envolvimento do espectador.
Quando Brei Larson foi escalada para viver a heroína nas telas um conflito surgira instantâneamente: a ganhadora do Oscar por O Quarto de Jack teria timing cômico para segurar uma protagonista nos moldes estabelecidos pelo padrão Marvel? A atriz é ótima em papéis dramáticos, mas em filmes de ação deixa a desejar. Não pela questão do porte físico, pois um ponto a favor da atriz é a questão de se aproximar de qualquer reles mortal, apesar de ser um das personagens mais fortes dos quadrinhos. O porte físico é o que menos importa, a questão é que a atriz não se encaixa na personagem pela postura e timing cômico. Nas cenas de ação Brei não transmite firmeza nos golpes e quando corre então... Nos momentos em que a heroína está na terra e tenta compreender seu passado, a atriz está mais confortável. Porém, nas cenas de ação ela não consegue transmitir intensidade e não faz jus a força que a personagem representa. Ao que tudo indica, ela será uma peça fundamental em Vingadores: Ultimato e com a postura que a atriz teve ao construir a personagem, o filme corre risco de não ser tão significativo nas cenas voltadas para a Capitã. Uma pena que no filme solo a atriz foi um casting equivocado prejudicando o resultado final.
O roteiro aposta em momentos importantes de forma branda ao destacar o empoderamento feminino. Ponto para as roteiristas que souberam dosar muito bem a relação de Carol com Maria e Yon- Rogg. A ausência de par romântico e a bela amizade que teve na força aérea são fundamentais para a construção da representatividade na trama. O problema é que se trata de um filme solo dentro de um universo com demais personagens que não favorecem a trama como um todo. Personagens que surgem somente como ligação para o filme de Guardiões da Galáxia, ou em uma provável sequência para outro filme solo da heroína. Adaptações foram feitas e uma virada no roteiro fez total sentido para dialogar com o momento de empoderamento atual. Esse diálogo com a realidade ganha força na trama. O que não significa que o filme como um todo funcione. Os coadjuvantes são fracos e possuem arcos pouco desenvolvidos. A Capitã fica pequena perto da dimensão e grandeza de seus poderes. Ao chegar no desfecho o filme perde força muito pelo arco de determinado personagem. Ela necessitava de um personagem que transmitisse mais impacto para que acreditássemos em toda a sua força. Vale ressaltar que ela é peça chave na luta a contra Thanos, portanto o espectador merecia um desfecho mais potente e envolvente. Samuel L. Jackson constroí perfeitamente a figura de Nick. Não chega nem perto da postura que temos nos demais filmes do universo, o que é ótimo para o espectador visualizar outras camadas do personagem. A questão é que Brei Larson não encontra o tom cômico de Carol e a dupla não se encaixa durante o filme.
Capitã Marvel possui momentos interessantes que evidenciam o empoderamento feminino. Carol precisa não somente montar as peças soltas de seu passado, como também provar que pode cair e levantar quantas vezes for necessário. A questão é que o roteiro se perde na montagem com cortes sucessivos e não proporciona um ritmo mais contemplativo para que o espectador tenha o envolvimento necessário para compreender a tragetória da protagonista. Os coadjuvantes são rasos e não imprimem a força necessária para impulsionar a trama. As cenas de ação e a coreografia são extremamente fracas tornando a mise- en-scène confusa aos olhos do espectador. Os efeitos visuais prejudicam e muito a aura da protagonista. O filme ganha força pelo núcleo dramático e quando transmite realismo na passagem da Capitã pela terra. Uma pena que a protagonista não surgiu lá no comecinho do universo com o Homem de Ferro e Capitão América, pois o espectador teria mais tempo de se familiarizar com a personagem e o filme não teria a sensação de ser somente mais um dentro do universo. Nós mulheres, o público em geral e a personagem merecíamos ir além do filme de ligação.
Comentários