Tom Hardy é um ator do método. Aquele ator que fica no personagem por um bom tempo durante as filmagens de um longa. Acredito que por essa razão ele se encaixou como uma luva no protagonista Eddie Brock. O jeito de andar meio desajeitado e o humor são marcas registradas do personagem. Eddie é um repórter raro nos dias atuais, ele é um jornalista investigativo. Ao abrir um email da namorada com dados sigilosos sobre os experimentos realizados na empresa de Dr. Carlton, Brock o pressiona, conclusão: perde o emprego e a namorada no mesmo dia.
Para surfar na crista da onda, vários atores renomados de Hollywood buscam entrar no universo das adaptações de histórias em quadrinhos. Tom Hardy já havia feito um vilão na trilogia de Christopher Nolan. Bane era um coadjuvante dentro do roteiro com uma gama vasta de personagens. Aqui, o ator toma o filme para si e é de longe um dos poucos acertos da trama. A composição de Tom Hardy para Eddie é um equilíbrio entre o caricato e a busca pelo humor. Eddie é querido por todos ao seu redor, mas quando em consequência do faro jornalístico, um simbionte entra em contato com o corpo do jornalista, o filme toma outros rumos e ganha uma dinâmica interessante. Eddie e Venom são um só. Essa parceria estabelecida entre os dois torna o filme envolvente. Com um protagonista para chamar de seu, Tom Hardy proporciona para Eddie um ar carismático, mais ao mesmo tempo, fora de controle. A dualidade de Eddie e Venom move boa parte da trama. O problema é que somente Hardy consegue extrair algo interessante para o personagens. Os demais atores estão totalmente perdidos cena. Michelle Williams é o par romântico do protagonista. Sua personagem não possui química alguma com Tom Hardy. O que era uma sugestão de atração entre o casal, só os afasta pela falta de entrosamento dos atores. Michelle se encaixa perfeitamente em papeis dramáticos, mas como a mocinha, não convence me momento algum. Já o excelente Riz Ahmed está extremamente afetado e sem motivação para a vilãnia proposta ao Doutor Carlton. Com vários ataques e em um tom excessivo, o ator compõe o personagem que cansa o espectador.
Venom tem um elenco com nomes de peso em Hollywood, mas do que adianta um elenco estelar se o roteiro não ajuda a contar a história? O primeiro ato ambienta o espectador no cotidiano jornalístico do protagonista, mas quando Eddie tem contato com provas de que algo muito errado acontece na empresa de Doutor Carlton, o roteiro toma rumos duvidosos e deixa o espectador totalmente perdido. Soluções deus-ex-machina são exploradas entre os atos. Eddie decide abrir o email de Anne e encontra obviamente o que procura. Uma moto surge no meio de uma perseguição para que o protagonista consiga escapar, além de momentos em que simplesmente não existe conclusão para as cenas. E a motivação do vilão? Não existe motivação. O vilão somente solta frases de efeito e tenta evidenciar uma personalidade perturbada com ataques chiliquentos. Apareceu o vilão, o espectador presencia um chilique. Fora as pontas soltas em diversos momentos para ressaltar como o simbionte procura um hospedeiro.
A direção de Ruben Fleischer em alguns momentos nas cenas de confronto acelera demais a condução e em paralelo com a montagem proporciona um ritmo confuso para o filme como um todo. No confronto final, a fotografia com cores frias, a direção e a montagem deixam o espectador confuso com a quantidade de informações que são jogadas na tela. O público desviou o olhar, a batalha final já acabou sem ao menos ter uma preparação para ambientar o espectador. A trilha sonora surge a todo instante, em todas as cenas o protagonista é embalado por uma trilha pesada para destacar o lado sombrio de Eddie Brock. James Gum manda lembranças...
Venom tem como ponto positivo o protagonista e a dualidade com o simbionte. O restante deixa muito a desejar. Uma confusão sem fim de montagem, direção, trilha sonora, atuações fora do tom e a fotografia escura que mais esconde do que ressalta a presença de Venom. O momento nos filmes de super-heróis exige mudança nas fórmulas estabelecidas. Venom é um ponto e uma tentativa totalmente fora da curva de todas as propostas realizadas pela Marvel e DC. Seria um vislumbre de algo diferenciado, um tom mais sombrio dentro dos demais universos propostos. A premissa era interessante: contar a origem de um vilão na ausência do Homem- Aranha. Infelizmente Venom ficou só na tentativa. Uma tentativa frustrante.
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