Reboot é atualmente sinônimo de Hollywood. De tempos em tempos um filme marcante de determinada década retorna para tentar uma aproximação com o público mais jovem e levar os fãs adultos para os cinemas. A década de 1980 está em alta e a bola da vez é O Predador. O que o reboot tem para oferecer ao espectador? Tecnologia. Efeitos visuais. Mas será que o diretor Shane Black, que atuou no filme de 87, obteve êxito no filme de 2018 ? Shane não tem um grande astro de ação para ser o protagonista, afinal de contas, o antecessor tinha ninguém menos que Arnold Schwarzenegger e para completar a equipe outro nome conhecido, Carl Weathers, o Apollo Creed da franquia Rocky. Infelizmente, o que Shane poderia explorar de melhor, não acrescentou em nada no reboot. Os efeitos visuais ficam ofuscados pelo ritmo, edição e direção frenéticos. É tamanha informação que o espectador fica confuso ao longo de toda a trama.
A grande qualidade do reboot é a química existente na equipe que se encontra por acaso, mas que no decorrer dos atos cativa aos poucos o espectador. Shane Black utiliza o timing cômico presente em cada personagem para dar leveza ao filme. O entrosamento do grupo proporciona ritmo a trama. Assim como no filme de 87, a equipe continua diversificada e carismática. Lembra em vários momentos os personagens do primeiro filme, mesmo que o protagonista não tenha o mesmo peso de Arnold, o conjunto consegue entreter o espectador. Um personagem importante do roteiro é o pequeno Rory, filho de Mckenna. Ele possui destaque, mas todo o núcleo envolvendo o ator perde força pela interpretação de Jacob Tremblay. O restante do elenco consegue entreter o espectador.
Shane Black provou ser um diretor que consegue mesclar comédia e ação na dose certa. Os ótimos Beijos e Tiros e Dois Caras Legais são filmes que equilibram bem os gêneros. Já em O Prodador o equilíbrio simplesmente não existe. O que temos na tela é uma câmera totalmente desgovernada que bombardeia literalmente o espectador de informação dentro da mise- en-scène. Vários tiros de todos os lugares possíveis e muito choque visual. Cabeças rolando, membros decepados e sangue jorrando na tela. Nem o novo visual moderno do alienígena sobressai ao caos dos infinitos cortes da edição. O ritmo é tão frenético que o espectador não consegue acompanhar tudo que é proposto pela direção, edição e ritmo. A tríade que poderia atrair o espectador só o afasta cada vez que mais uma cena de ação é jogada na tela.
No filme de 87 o espectador tinha tempo suficiente para se entreter com a ação proposta dentro da trama. Arnold nunca foi um primor na atuação, mas ele era puro carisma que cativou o espectador nos anos 80. Os tempos são outros e os efeitos visuais são os protagonistas atuais. Proporcionar um aspecto visual diferenciado para a criatura impulsiona a trama, mas o todo fica confuso com a quantidade de informações propostas. Sem contar as soluções deus ex-machina do protagonista durante os atos. As soluções só reforçam a fragilidade do núcleo familiar de Mckenna. Por falar em excesso de informações, outro elemento narrativo que causa incômodo é a trilha sonora. Não existe pausa para o espectador, ela está presente durante todo o filme.
Nos tempos de reboot em Hollywood o lema é fazer bilheteria para investir em uma provável franquia. Não temos mais um Arnold, mas temos recursos visuais que se forem utilizados de forma adequada podem gerar bons filmes futuramente. O que realmente precisa é estabelecer foco em meio ao caos proposto. A equipe teve timing cômico, mas do que adianta um gênero funcionar se o outro não consegue acompanhar? O tom cômico conseguiu envolver. Já a ação fez enfraquecer o filme com a quantidade de informações inseridas na mise- en-scène. Menos é mais. Menos informação, mais entretenimento.
Comentários