Steven Spielberg é um diretor de tamanha versatilidade que alterna gêneros com frequência sem perder a autoria. Com Tubarão, Spielberg explorou o suspense buscando o imaginário do espectador. O ano? 1975. Vale repetir o fato tempos depois? Vale. E pensando na imersão do público de forma direta sem perder o elo entre trama e espectador, o diretor optou novamente em explorar criaturas aos poucos. O filme era Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. O ano? 1993. Se em Tubarão Spielberg não tinha tecnologia suficiente para evidenciar ao máximo o protagonista, justificando assim a ausência dele, em Jurassic Park, o diretor tinha a tecnologia a seu favor, mas mesmo assim em determinados momentos do filme, a sugestão de que algo está para acontecer funcionou mais como imersão para o espectador do que a própria tecnologia. Utilizando o suspense e os recursos inovadores da época, Spielberg proporcionou ao público um dos aspectos mais importantes da sétima arte: fazer o espectador acreditar na história. Quem conferiu o filme nos cinemas, não tinha outra reação. Estava praticamente hipnotizado com o que acabara de assistir.
O bilionário John Hammond é dono de um Parque na Costa Rica. O Parque possui diferencial e pode gerar lucros, o que não é a intensão principal do simpático senhor, mas que desperta obviamente a ambição de muitos. Hammond deseja criar dinossauros de várias espécies. Somente fêmeas, para ter o devido controle de todos os experimentos. Para isso, a combinação do DNA extraído do sangue de mosquitos e mesclado com o de sapos geram em laboratório uma quantidade fascinante de espécies que permaneciam extintas. Dr. Alan, Dra. Ellie e o canastrão(no bom sentido) Dr. Ian são convidados para inspecionar o Parque e liberá-lo finalmente para o público. O trio fica fascinado, mas ao mesmo tempo com muitos receios sobre o instinto natural das criaturas. Tudo muito tranquilo, mas sempre com a atmosfera intrigante de suspense que Spielberg sabe criar.
No começo do filme o diretor desperta o interesse do espectador por explorar um ataque muito bem conduzido com takes que envolvem e emergem a atmosfera que será constante durante todo o filme. O suspense em mostrar aos poucos e com detalhes específicos a presença das criaturas é evidenciado nos primeiros minutos. Por ser um diretor com características clássicas, Spielberg segue perfeitamente o tempo entre os atos. É interessante perceber que a cada meia hora algo significativo acontece na trama. Momentos como: o trio tendo o primeiro contato com o Parque, o ataque do Tiranossauro Rex e quando todos os personagens se encontram lutando pela sobrevivência. Tudo no momento certo das viradas entre os atos, sem deixar o envolvimento do espectador de lado. No filme todo, o interesse do trio é o reflexo do interesse do espectador, mesmo nas explicações científicas. A animação utilizada para detalhar o surgimento das espécies é uma bela estratégia narrativa inserida na trama para deixar o espectador envolvido e explorar de forma lúdica algo massante do roteiro.
No começo do segundo ato a aventura toma conta da tela no melhor sentido da palavra. Apesar de ser um recurso repetitivo ao longo da trama, o fato das folhas balançarem e o tremor do impacto ser nítido na água, o espectador em nenhum momento fica distante por saber que alguma criatura vai atacar. Os recursos visuais utilizados servem para trabalhar a atmosfera de suspense durante os atos e Spielberg utiliza esses recursos casados com a brilhante trilha sonora de John Willians e o zoom in específico na atuação dos atores e em determinados objetos cênicos. Não esquecendo, é claro, do efeito sonoro. O som emitido pelas criaturas deixa qualquer espectador apreensivo com o que irá surgir. Assistir Jurassic Park no cinema em 1993 foi uma experiência única e marcante. Como esquecer a tentativa do pequeno Tim em esconder o medo porque o fascínio dele pelas criaturas era maior (olha o espectador aqui novamente na pele do personagem)? Ou o pânico da adolescente Lex em tentar fechar o armário na cozinha para se esconder? Como Lex me coloca a luz da lanterna justamente no olho da criatura (em uma cena belíssima)? São cenas que permanecem no imaginário do espectador e que marcaram a sétima arte.
Jurassic Parque: O Parque dos Dinossauros mostrou ao espectador o que o cinema pode fazer de melhor. Entretenimento de qualidade que utiliza uma trama envolvente com os recursos tecnológicos necessários para fazer o roteiro ganhar vida. A equipe que também virou referência para demais filmes do gênero fica nitidamente em segundo plano. Os verdadeiros protagonistas são as criaturas criadas digitalmente e que modificaram de forma significativa a maneira de fazer blockbuster de qualidade. Ter o envolvimento do espectador durante duas horas não é tarefa fácil. Tinha que ser Ele. Spielberg sempre marcando gerações.
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