Duas mulheres. Duas realidades opostas. O elo de conexão entre as protagonistas é o profissionalismo. Camila é terapeuta na universidade onde Glória trabalha como ascensorista. Glória começa a ter encontros periódicos com Camila e após algumas sessões o elo entre elas fica cada vez mais forte e perigoso. A primeira cena em que as protagonistas dialogam, a câmera de Lucia Morat aproxima aos poucos os olhos do espectador para Grace Passô. Aproxima e ao longo de toda a trama ficamos com eles fixados no poder de atuação de Grace.
Lucia explora ao máximo o primeiro plano para evidenciar a atuação de ambas. Outro ponto importante da direção são os enquadramentos sempre no canto da tela para reforçar o sofrimento e aprisionamento de Glória e Camila. Apesar do roteiro dar importancia significativa para as atrizes explorarem as camadas das personagens é Grace que move toda a trama. Com uma atuação digna de prêmios, Grace imprime poder e fragilidade em uma mesma cena. As nuances são alternadas de forma sutil no intenso olhar da atriz. A entrega é total. Física e psicológica. A cada cena, a atriz demonstra total domínio da personagem, mesmo com reviravoltas que prejudicam a trama como um todo.
O roteiro acerta em explorar os mundos paralelos das protagonistas, mas no fim do segundo ato aborda uma reviravolta que não condiz com o que foi proposto no começo da trama. A mudança de gênero, do drama para o viés psicológico de Camila afasta o espectador cada vez mais da protagonista. Grace consegue imprimir firmeza na reviravolta proposta para Glória, apesar de também não refletir o que foi estabelecido no teor dramático da protagonista. As mudanças são desnecessárias, mas Grace mantém o poder de presença na tela, já Joana perde o rumo junto com o arco proposto para Camila. O roteiro tenta explorar um pouco da complexidade e drama na vida da personagem. O interesse amoroso torna-se descartável e tudo em volta da terapeuta enfraquece o roteiro.
No primeiro ato a predominância para cortes secos interrompende as sessões e aproxima o espectador do arco de Glória. A cada sessão a protagonista conta um pouco do que a levou a procurar ajuda. A realidade da protagonista é o reflexo direto das inúmeras mulheres negras que vivem nas favelas brasileiras. Os cortes continuam secos para que a tensão aumente no final do segundo ato e no decorrer do terceiro. Os cortes que aproximavam o público de drama de Glória no começo da trama, nos dois últimos atos causam o afastamento gradual do espectador.
Praça Paris explora as dificuldades das jornadas diárias de várias mulheres negras que vivem nas favelas brasileiras. A luta para conquistar dignidade e sobreviver com o pouco que lhes restou. O passado deixou marcas difíceis de compreender e esquecer para tentar seguir em frente. Glória e Grace unem forças no trabalho extremamente competente da atriz. Impossível ficar indiferente ao que está projetado na tela e que é reflexo direto da realidade brasileira. Praça Paris possui intensidade na trama mas os rumos abordados nos arcos das protagonistas tornam-se equivocados entre os atos.
Comentários