Um dos aspectos mais interessantes do recomeço de Lara Croft nos cinemas é aproximar o espectador de uma protagonista real, pelo menos até a metade do segundo ato. De um lado da moeda, o estúdio quer explorar a imagem da atriz ganhadora do Oscar para arrecadar bilheteria, do outro lado, o público ganha uma imagem crível de Alicia Vikander. A atriz está longe de ter o corpo próximo dos games, mas a todo instante ela prova que características físicas podem ficar em segundo plano. Com muito carisma e uma interpretação firme nos momentos decisivos, a atriz tem um caminho longo para percorrer se os números e os fãs ajudarem um pouquinho.
Não tenho o background dos games, a referência que guardo na memória é de Angelina Jolie como Lara, mas neste filme fica clara o seguinte mensagem: ou existe uma imensa falta de criatividade nas coreografias voltadas para as cenas de ação, ou é característica dos games a personagem se pendurar em todos os lugares possíveis para não cair e dar o mesmo golpe para imobilizar coadjuvantes. Mas Alicia consegue intensificar as cenas, o que proporciona empolgação espectador. É ótimo ver uma atriz que se entrega para o papel independente do personagem. Vikander está em forma com um tipo físico fora do padrão. Tudo bem que as situações são difíceis de acreditar, mas o espectador embarca na aventura da jovem protagonista de vinte e poucos anos.
Se Alicia possui carisma suficiente para segurar uma provável franquia, o mesmo feito não se estende aos coadjuvantes. A trama perde força ao explorar vários momentos da relação do pai com a protagonista e quando ambos se reencontram, o que estava presente em todo momento durante o filme em flashback, não alcança impulso para movimentar os dois atos restantes. Uma pena que Dominic West com extrema competência não tenha a química necessária com Alicia Vikander em cena. Em compensação, Nick Frost é o alívio cômico pontual. Dá para sentir falta do personagem ao longo da narrativa.
Outro equívoco que acompanha o espectador é o excesso de trilha sonora. Lara respirou, o elemento narrativo está presente. Vale assistir em uma sala com tela e som apropriados, o filme certamente envolverá o espectador na sala devida. A experiência fica mais intensa e a trilha pode ganhar um aspecto positivo. Apesar de previsível, a fotografia ganha um aspecto nostálgico com uma paleta escura. O flashback da protagonista com o pai ganha mais sentido do que o contato real presente durante o filme.
Alicia Vikander é a nova protagonista com toques realistas e imenso carisma para um novo recomeço. Se para os super heróis um pré-requisito básico é o físico sobressair ao personagem, Vikander percebe que a protagonista está em primeiro plano. O físico reflete o esforço da atriz, mas a Lara de Alicia vai além e quem ganha é o espectador.
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