Pular para o conteúdo principal

Um belo exercício de empatia (Uma Mulher Fantástica)


Marina é cantora em um restaurante e se apaixona por Orlando. No decorrer da narrativa o espectador percebe que o sentimento de Marina por Orlando foi intenso e real. Após a morte do parceiro, a protagonista precisa encontrar forças para seguir adiante e viver com o mínimo de dignidade o luto pela morte da pessoa amada.

A família de Orlando sempre foi contra o relacionamento. Adriana, a viúva "oficial" de Orlando, não compreende porque foi trocada por uma mulher mais nova. Já Gáston rejeita completamente a protagonista e a faz passar por várias situações que outra mulher talvez não suportaria ou teria desistido. O que move Marina? O amor que ela sentia e ainda sente por Orlando.

O roteiro de Sebastián Lelio que também dirige com firmeza e de forma extremamente realista retrata para o espectador um determinado período da vida de Marina e exalta as dificuldades da protagonista em viver o luto do companheiro. A figura de Orlando sempre aparece como um fantasma envolto por cores vibrantes para mostrar ao público a intensidade da relação e como a "presença" do marido impulsiona a protagonista em momentos decisivos.


O arco de Marina é repleto de metáforas para ressaltar o sofrimento e obstáculos que ela precisa superar. Seja o reflexo do rosto em um espelho estrategicamente posicionado em frente ao orgão genital ou a ventania forte que tenta derrubá-la. Todas as situações que Marina passa é o reflexo cruel do comportamento da sociedade.

Uma Mulher Fantástica é um tocante e belo exercício de empatia. Se colocar no lugar do outro e poder ao menos sentir o mínimo do sofrimento da protagonista é necessário para a visão do espectador. Marina é uma mulher transexual. Não mencionar logo no parágrafo da sinopse esse aspecto foi uma decisão proposital porque Marina se vê como uma mulher que supera preconceitos. Como a protagonista menciona em determinado momento: "Eu virei a página e estou pronta para a próxima." E assim, ela segue a vida tentando mostrar para todos a bela voz que tem. Uma voz de artista completa. A voz de Uma de Mulher Fantástica.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E o atendente da locadora?

Tenho notado algo diferenciado na forma como consumimos algum tipo de arte. Somos reflexo do nosso tempo? Acredito que sim. As mudanças não surgem justamente da inquietação em questionar algo que nos provoca? A resposta? Tenho minhas dúvidas. Nunca imaginei que poderia assistir e consumir algum produto em uma velocidade que não fosse a concebida pelo autor. A famosa relíquia dos tempos primórdios, a fita VHS, também nos aproximava de um futuro distópico, pelo menos eu tinha a sensação de uma certa distopia. Você alugava um filme e depois de assistir por completo, a opção de retornar para a cena que mais gostava era viável. E a frustração de ter voltado demais? E de não achar o ponto exato? E o receio de estragar a fita e ter que pagar outra para o dono da locadora? Achar a cena certinha era uma conquista e tanto. E o tempo...bom, o tempo passou e chegamos ao DVD. Melhoras significativas: som, imagem e, pasmem, eu poderia escolher a cena que mais gostava, ou adiantar as que não apreciav...

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma provável franquia (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro)

Um grupo de amigos que reforça todos os estereótipos possíveis, a curiosidade que destaca os laços da amizade, uma lenda sobre uma casa assombrada e desaparecimentos constantes. Histórias Assustadoras para Contar no Escuro apresenta uma trama previsível repleta de referências à filmes  e séries lançadas recentemente como It: A Coisa e Stranger Things. É a velha cartilha de Hollywood: se deu bilheteria em um estúdio à tendência é repetir a dose. Apesar dos elementos e trama repetitivos, sempre vale a pena assistir novos atores surgindo e diretores principiantes com vontade de mostrar trabalho. É o que acontece neste filme produzido e roteirizado por Guilhermo Del Toro . Nada de muito inovador no gênero, o jumpscare reina, porém com o olhar criativo da direção e uma nova geração afiada, o filme ganha o envolvimento do espectador.  O roteiro gira em torno de um grupo de amigos excluídos que finalmente tomam coragem para enfrentarem os garotos mais valentes. Assustados, o ...