Pular para o conteúdo principal

Uma narrativa interminável (Valerian e a Cidade dos Mil Planetas)




Valerian e a Cidade dos Mil Planetas tem a direção de Luc Besson principalmente pela característica marcante voltada para o aspecto visual. O Quinto Elemento e Lucy são exemplos onde esse elemento narrativo tornou-se parte imprescindível para o envolvimento do espectador nas devidas tramas. O primeiro ato nos ambienta entre os variados povos e a convivência pacífica com os humanos. Valerian e Laureline são agentes federais (entre um ato e outro, o público é constantemente lembrado desse aspecto, mas logo chegaremos ao roteiro que gira em ciclos) que lutam para defender a terra. 

O mais interessante de Valerian é a ambientação dos planetas e povos. Ao longo do filme, o espectador pode observar influências visuais das sagas Star Wars e Star Treck. Temos também um vislumbre de Blade Runner e 2001: Uma Odisséia no Espaço (a abertura tem uma inspiração forte no Clássico). As referências são o ponto forte da trama. Por falar em viagens interplanetárias, vale voltarmos um pouquinho no tempo, em 1967, quando a HQ Francesa Valerian foi lançada. Os criadores, o escritor Pierre Christin e o artista Jean-Claude Mézières, influenciaram de forma direta ou indireta muitos filmes após o surgimento dos quadrinhos. Quem realmente ganhou foi o público com uma HQ precursora e Sagas que vamos venerar ao longo de décadas. A cabeça de quem vos escreve explodiu ao pesquisar que existiu vida criativa antes de Star Wars. Voltando ao filme...



A primeira impressão é o impacto das cores vivas e vibrantes ao retratar o planeta Alpha. O azul predomina e a leveza do ambiente torna a premissa do filme tentadora. Mesmo com um princípio envolvente, o ritmo é constantemente quebrado ao focar no romance dos protagonistas. Dane DeHaan consegue extrair a essência do personagem da HQ Francesa, mesmo ele sendo um personagem mais velho nos quadrinhos. Sarcástico e com a atenção voltada para uma lista constante de casos amorosos, o jovem ator consegue desvincular e quebrar o estereótipo de tipos caricatos e pitorescos que interpretava. O calcanhar de Aquiles é contracenar com Cara Delevingne. Por mais que o ator tenha uma composição clara de personagem, o protagonista perde força toda vez que está em cena com "a atriz" (muitas aspas, ela tem um longo caminho pela frente e não sei se esse terá luz). O filme perde em ritmo e força com a presença da atriz e, consequentemente, o trabalho do ator fica ofuscado. 



O roteiro intercala atos longos para o desenvolvimento dos protagonistas. A falta de química entre o casal prejudica de forma crescente o filme. Ao insistir em um tom cômico que se perde em diversos momentos, o enredo deixa de explorar subtramas e personagens importantes para restabelecer o ritmo da narrativa. Personagens desaparecem e retornam no terceiro ato sem a força devida, outros como Bubble e Jolly, se retirados da trama, não fariam diferença dentro do contexto. O núcleo dos personagens somente estende aspectos irrelevantes e reforçam a ideia do romance entre o casal. 

Mesmo com um visual interessante para explorar uma provável franquia, Valerian e a Cidade dos Mil Planetas peca em elementos narrativos essenciais como: ritmo, roteiro e elenco. A falta de química entre os protagonistas e o roteiro que explora personagens desnecessários para a trama proporcionam a sensação de ausência de ritmo, mesmo nas cenas de ação intensa. A trama envolve o espectador com o primeiro ato promissor, mas ao fim da sessão não consegue adiar o inevitável : ser uma narrativa interminável. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entretenimento de qualidade (Homem-Aranha no Aranhaverso)

Miles Morales é aquele adolescente típico que ao grafitar com o tio em um local abandonado é picado por uma aranha diferenciada. Após a picada, a vida do protagonista modifica completamente. O garoto precisa lidar com os novos poderes e outros que surgem no decorrer da animação. Tudo estava correndo tranquilamente na vida de Miles, somente a falta de diálogo com o pai o incomoda, muito pelo fato do pai querer que ele estude no melhor colégio e tudo que o protagonista deseja é estar imerso no bairro do Brookling. Um dos grandes destaques da animação e que cativa o espectador imediatamente é a cultura em que o personagem está inserido. A trilha sonora o acompanha constantemente, além de auxiliar no ritmo da animação. O primeiro ato é voltado para a introdução do protagonista no cotidiano escolar. Tudo no devido tempo e momentos certos para que o público sinta envolvimento com o novo Homem-Aranha. Além de Morales, outros heróis surgem para o ajudar a combater vilões que dificultam s

Um pouquinho de Malick (Oppenheimer)

Um dos filmes mais intrigantes que assisti na adolescência foi Amnésia, do Nolan. Lembro que escolhi em uma promoção de "leve cinco dvds e preencha a sua semana". Meus dias foram acompanhados de Kubrick, Vinterberg e Nolan. Amnésia me deixou impactada e ali  percebi um traço importante na filmografia do diretor: o caos estético. Um caos preciso que você teria que rever para tentar compreender a narrativa como um todo. Foi o que fiz e  parece que entendi o estudo de personagem proposto por Nolan.  Décadas após o meu primeiro contato, sempre que o diretor apresenta um projeto, me recordo da época boa em que minhas preocupações eram fórmulas de física e os devaneios dos filmes. Pois chegou o momento de Oppenheimer, a cinebiografia do físico que carregou o peso de comandar a equipe do Projeto Manhattan,  criar a bomba atômica e "acabar" com a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria já havia começado entre Estados Unidos e a Alemanha, no quesito construção da bomba, a ten

Rambo deseja cavalgar sem destino (Rambo: Até o Fim)

Sylvester Stallone ainda é o tipo de ator em Hollywood que leva o público aos cinemas. Os tempos são outros e os serviços de streaming fazem o espectador pensar duas vezes antes de sair de casa para ver determinado filme. Mas com Stallone existe um fator além da força em torno do nome e que atualmente move a indústria: a nostalgia. Rambo carregava consigo traumas da Guerra do Vietnã e foi um sucesso de bilheteria. Os filmes de ação tomaram conta dos cinemas e consagraram de vez o ator no gênero. Quatro décadas após a estreia do primeiro filme, Stallone resgata o personagem em Rambo: Até o Fim. Na trama Rambo vive uma vida pacata no Arizona. Domar cavalos e auxiliar no trabalho da policial local é o que mantém Rambo longe de certos traumas do passado. Apesar de tomar remédios contralodos, a vida beira a rotina. O roteiro de Stallone prioriza o arco de Gabriela, uma jovem mexicana que foi abandona pelo pai e que vê no protagonista uma figura paterna. No momento em que Gabriela d