O mais recente filme de Sofia Coppola insere o espectador em uma trama que no primeiro momento ganha tons de cotidiano e aos poucos a minuciosidade dos gestos e olhares envolvem a narrativa em um contexto complexo, um jogo mesclado pela inocência e sedução do elenco feminino. Nicole Kidman gerência um internato somente para mulheres, mas toda a rotina é modificada com a chegada de Colin Farell, um Cabo ferido em combate. A trama explora a estranha presença do protagonista e as consequências que a figura masculina representa para as mulheres.
Interessante
perceber o trabalho enriquecedor de Sofia Coppola ao compor a mise-en-scène
da narrativa. O cuidado ao estabelecer a posição dos atores em cena
engrandece o filme. O jogo entre as atrizes, particularmente nos momentos em
que todos os personagens estão em cena jantando, a tensão entre Martha e
Edwina, ambas frente a frente, nos transmite a sensação de tensão gradativa. A
diretora explora os principais personagens com takes contemplativos
proporcionando o devido desenvolvimento e importância de cada uma das mulheres dentro da trama. A troca de olhares e os gestos contidos significativos das atrizes
casam perfeitamente com a posição de cada uma para compor as cenas e gerar a
tensão que o filme necessita.
A
fotografia alterna e explora momentos importantes para a narrativa. A casa
é envolta em uma atmosfera escura para proporcionar tensão entre os
personagens. Uma paleta de cores quentes ressalta o jogo de sedução entre a
tríade composta por Nicole, Kirsten e Elle hipnotizadas pela presença de Colin
Farell. No momento em que o personagem recupera-se, a fotografia ganha tons
mais leves e a luz toma conta do quarto por completo. O tom escuro da
fotografia é deixado de lado nos momentos de inocência e quando todos estão
fora da casa. A casa é reflexo do confinamento interno de cada personagem e a
fotografia contribui significamente para gerar determinadas sensações no
espectador.
Sofia possui uma percepção intensa ao dirigir atrizes em cena. O
trabalho realizado pelo elenco ressalta a importância da tensão gerada na
narrativa. A composição de Nicole Kidman que alterna momentos de abertura
emocional e rigidez para interpretar Martha encabeça a competência da atriz
envolta pela segurança na direção. Kirsten Dunst trabalha perfeitamente o olhar
distante e melancólico contido nos gestos de Edwina proporcionando um leve tom
de esperança para a personagem. Elle Fanning mostra a sutileza em um olhar mais
intenso e com toques de malícia pela descoberta de sentimentos aflorados. As demais atrizes enriquecem
o filme com inocência e a tensão de algo mais drástico que proporcionou a
quebra da rotina de seus afazeres. A dinâmica e o jogo de cena entre as
personagens refletem diretamente no amadurecimento de Sofia na direção.
O Estranho que Nós Amamos proporciona ao espectador uma imersão de
sentimentos. Tensão, inocência e sedução são evidentes quando ressaltados pelo
posicionamento cênico das atrizes, a direção segura de Sofia Coppola e o
trabalho minucioso do elenco que proporcionam ao público a experiência de
acompanhar por um determinado período a transformação presente em cada arco das
personagens dentro da mise-en-scène.
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