Fala Comigo é um paradoxo entre o silêncio e a vontade de se
expressar com os mais próximos. O jovem Diogo vive os conflitos típicos de um adolescente com dezessete anos: preocupação com o Enem e a sexualidade à
flor da pele. De uma forma inconsequente, o protagonista estabelece uma
ligação com Ângela quando escuta a voz da personagem do outro lado da linha. Entre um trote e outro por telefone, os protagonistas começam um relacionamento. No decorrer dos atos, o filme explora os dilemas vividos pelo casal
e o preconceito social.
Durante toda a narrativa o diretor Felipe Sholl opta por close- up
dos atores e planos fechados transmitindo a sensação para o espectador de
aprisionamento do casal de protagonistas para quebrar tabus sociais e
principalmente pelos conflitos internos de ambos. Ao longo do filme, quando
os pais estão em cena, um personagem fica desfocado para ressaltar a falta de
conexão e distanciamento de Clarisse e Marcos. Os personagens sempre estão
isolados dentro do apartamento. Diogo no quarto, a mãe no consultório e o pai
dormindo do sofá da sala. A falta de comunicação da família é quebrada aos
poucos por pequenos gestos do filho que sempre estabelece o contato físico como
forma de carinho e atenção.
O roteiro toca em assuntos delicados e tenta explorar os arcos dos
personagens, mais ao final do terceiro ato, um padrão é estabelecido em torno do
quarteto: quando uma subtrama é inserida na narrativa, a edição corta momentos
importantes e o roteiro deixa pontas soltas para assuntos que poderiam
enriquecer o filme. O colega de escola, a mãe de Diogo e o conflito de Clarisse
com Ângela poderia ser explorado com mais intensidade. As cenas
acompanham a falta de ritmo gerada pela edição. É interessante deixar algumas
questões em aberto para o espectador se envolver e tirar as próprias
conclusões, mas o roteiro deixa explícito a falta de continuidade no arco dos
personagens.
Existe um choque de interpretações entre os profissionais mais experientes e a naturalidade do protagonista. Os diálogos ficam truncados em algumas cenas. A experiência de Karine Tales enfrenta um conflito naturalmente existente na atuação do iniciante Tom Karabachian, o que prejudica o ritmo dos diálogos em cena.
Fala Comigo é uma narrativa que explora tabus vistos por um ponto
de vista diferenciado. O encantamento de um adolescente
apaixonado por uma mulher mais velha. Momentos constrangedores e o preconceito
familiar são ressaltados e alcançam o espectador. O filme aborda a descoberta
perante os olhos do jovem Diogo e a vida ganha um novo sentido para Ângela.
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