Poucos diretores conseguem tem o domínio de todos os elementos narrativos dentro da trama. Um dos que se destaca nesse aspecto é Ozon que consegue envolver o espectador logo nos primeiros minutos de seus filmes. O mais recente trabalho de Ozon é o drama, com uma atmosfera clássica, Frantz. O filme se passa no pós-guerra, em 1918, entre dois países: França e Alemanha. A trama é centrada em dois protagonistas: Anna e Adrien. A jovem o encontra parado em frente ao túmulo de Frantz. Logo o personagem começa a preencher o vazio da família que teve o filho único morto no front de guerra.
François tem o
domínio da mise-en-scène e explora todas as possibilidades dentro de um
perfeccionismo que enriquece a cada cena a narrativa. No primeiro ato, o
diretor enquadra o cenário com uma linguagem mais teatral. A
movimentação dos atores dentro da casa e ao conversarem entre as refeições de
forma anestesiada pela dor refletem gestos teatrais. Com vários takes e closes no casal de
protagonistas, o espectador se familiariza aos poucos de forma relevante com
os personagens. A aproximação pela dor se transforma em afeto pela proximidade de Adrien com Frantz. Sempre que os diálogos refletem o amor e a
figura de jovem alemão morto na guerra, a estética do filme ganha um fotografia
com paleta de cores quentes acompanhada de uma trilha sonora envolvente e
suave.
Ozon domina os
elementos narrativos e faz a câmera sempre acompanhar os protagonistas. A trama
cresce no decorrer dos atos, pois o diretor explora o roteiro sempre
ressaltando elementos que fazem o espectador sair da zona de conforto. O diretor propositadamente nos faz refletir que a narrativa será conduzida
para determinado aspecto, mas nos momentos relevantes somos levados as reais
motivações do protagonista acompanhados de zoom in e trilha sonora. O roteiro é repleto de camadas e questionamentos que
movem a trama.
O trabalho feito
pelos atores enriquece os personagens. Paula Beer exala sensibilidade e
sofrimento contido pela perda do noivo. Já Pierre Niney transmite força e o
tormento necessário para o jovem Adrien. A fotografia em preto e branco
ressalta ainda mais as expressões e interpretações dos atores em cena. Ozon
equilibra as subtramas e explora de forma intensa os arcos dos personagens. Um
está ligado ao outro por tomarem decisões semelhantes que modificam o rumo de
suas vidas. O roteiro extremamente rico não deixa de explorar os horrores e
consequências da guerra. O equilíbrio ao focar os dois lados e as dores de dois
países devastados é retratado com sensibilidade.
Frantz é uma
narrativa intensa que provoca questionamentos a cada ato em decorrência de um
roteiro coeso que explora momentos decisivos para prender o espectador. François Ozon domina o filme por completo e nos apresenta personagens com
conflitos intensos e instigadores. Além da força na direção, Ozon
domina principalmente o espectador. O diretor consegue que esse domínio extrapole a tela e permaneça por muito tempo inquietando o público.
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