Quando as
irmãs Whachoski realizaram Matrix, um marco da ficção científica nos anos 90, em
algumas entrevistas elas afirmavam que o anime Ghost in the Shell foi uma fonte
inspiradora para a trilogia. As diretoras exploraram referências e souberam
realizar filmes autorais. Se com a inspiração o
espectador teve Matrix, quase duas décadas depois, o que podemos dizer de uma adaptação que tem como base o
próprio anime? Com uma fonte tão rica, a adaptação cinematográfica de A Vigilante do Amanhã - Ghost in
the Shell, não teria muita justificativa para não ser ao menos visualmente
impactante e poderia ir além, mas o filme se fixa somente nos efeitos visuais e
esquece o primordial: o roteiro rico do dilema entre máquina e ser humano.
Ter ScarlettJohansson como protagonista é obviamente uma escolha lucrativa para o estúdio visando
explorar a imagem da atriz. O elenco está mediano e consegue fazer o possível
com o material que tem em mãos. Pilou Asbaek realiza um trabalho interessante ao
lado da protagonista. As cenas da dupla são mais introspectivas e filosóficas,
ou ao menos acredito que esta seria a intenção presente no enredo. JulietteBinoche é a personagem que move as sensações humanas de Motoko.
O primeiro
ato da trama é voltado para a ambientação e riqueza dos efeitos visuais
mesclados com o recurso 3D explorado de forma competente. A mise-in-scène é
composta de forma interessante para que o espectador fique imerso no trabalho
realizado em explorar os espaços cênicos. A fotografia ressalta uma paleta de
cores diversa que reflete a atmosfera e nos remete ao futuro um tanto quanto intenso visualmente.
O que tira
consideravelmente o espectador da narrativa é o roteiro de William Wheeler e
Ehrer Kruger. A primeira adaptação do anime foi o filme de 1995 e nela a
essência da dualidade entre máquina e o ser humano eram exploradas de tal forma
que instigava a cada cena o público no conflito da protagonista. No filme de
2017, o que se tem são frases soltas com efeito vazio e uma Major que encontra
personagens que não acrescentam em nada no contexto da trama. O elo de Motoko
com o passado, em especial com a personagem de Hairi,teria um potencial narrativo interessante, mas a ligação que eleva
a humanidade da protagonista é reduzida em três cenas que não possuem
continuidade e a ausência de um arco maior para a figura materna deixa um vazio
na narrativa. Uma protagonista com tamanho conflito existencial merecia um
vilão a altura, ou melhor ainda, "dois" para enriquecer o roteiro e iludir o
espectador com uma falsa virada na trama.
O filme constantemente transmite a sensação para o espectador que tem como inspiração Matrix e Blade Runner. O primeiro, por literalmente beber da fonte do anime; o segundo, pelo cunho filosófico em uma referência próxima do clássico de Ridley Scott quando Kuze alerta Motoko sobre a "realidade"; mas não chegam a causar o impacto necessário para que a trama seja ao menos significativa e ir além da questão visual. Os filmes mencionados possuem a devida importância para a sétima arte e A Vigilante do Amanhã - Ghost in the Shell, não tem a pretensão de ser o novo clássico da ficção científica, muito pelo contrário, ele nos proporciona o puro entretenimento, mas com todo o conteúdo que o filme poderia alcançar, a narrativa deveria ir além do imenso vazio presente no roteiro.
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