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Saudosismo e Entretenimento (O Bebê de Bridgest Jones)


Ela voltou, mas algumas questões que anteriormente eram preocupações constantes, agora estão bem resolvidas. A prioridade é o filho. Sim, a protagonista retorna para exercer uma papel significativo : ser mãe. Velhos aspectos da personalidade excêntrica de Bridget caem novamente na graça do espectador. O interessante dos filmes anteriores é que já no primeiro longa, O Diário de Bridget Jones, a empatia foi estabelecida, especialmente com o público feminino. Qual mulher não teve um diário como confidente e ficou dividida entre dois amores? Mas o que realmente nos aproxima da protagonista é a sua autenticidade. Quinze anos após conhecermos Bridget, ela está mais confiante, assuntos conflitantes ganham outra dimensão: carreira profissional bem sucedida e a batalha contra o peso vencida - provavelmente porque Renée Zellweger se recusou a ganhar os quilos a mais tão característicos da protagonista - agora, a prioridade vem de forma inesperada, a protagonista será mãe em O Bebê de Bridget Jones. 

O longa começa com a famosa cena em que a personagem canta All By My Self, mas logo troca a música para algo mais atual e demostra ao público que velhos hábitos podem ser modificados, mas que a essência da protagonista continua presente. Bridget decide viajar para um festival pop com sua amiga de trabalho e aproveita intensamente o evento. Resultado? Um bebê está a caminho. Somente com um pequeno detalhe que faz toda a diferença: Bridget não sabe quem é o pai. Praticamente na mesma semana de conhecer Jack Qwant no festival, ela tem uma recaída com um antigo amor, Mark Darcy. 

Um aspecto que deixou o público saudosista por um longo período pode causar estranheza no retorno da protagonista. Renée exagera e beira o overacting em vários momentos, principalmente nas cenas do festival e quando reencontra Darcy na festa de batizado do filho de Jude. A personagem retoma o equilíbrio a partir do momento em que se dedica a gestação, sem deixar o lado quase infantil e encantador de Bridget. Outra questão que enfraquece a trama é Patrick Dempsey que substitui Hugh Grant como interesse amoroso e rival de Colin Firth. A química estabelecida nos filmes anteriores entre Firth e Zellweger, já deixa Dempsey em desvantagem. Lógico que escutei de algumas espectadoras no cinema que queriam ter a sorte de Bridget e encontrar alguém como Jack em um festival, mas competir com o talento de Colin, poucos conseguem. O carisma de Daniel Cleaver fez toda a diferença para equilibrar com o jeito mais contido de Darcy. Neste filme, a sensação que se tem é de que Bridget não está dividida ou apaixonada por Jack. Consequência da construção e o tom linear da interpretação de Patrick. O mesmo pode ser dito dos atores que cercam a protagonista no ambiente de trabalho, o público pode sentir falta da interação dos antigos amigos que somente aparecem de relance na história. Personagens ricos que foram esquecidos no passado e poderiam ser resgatados para enriquecer ainda mais a trama.


Vale destacar o excelente trabalho de Emma Thompson que também assina o roteiro. Como ginecologista da protagonista, a atriz transmite uma sutileza no humor em momentos importantes. Emma consegue trazer sarcasmo e leveza para a história. Um tipo diferenciado de tom no humor que equilibra e eleva a química entre as atrizes. Por falar em tom, que saudosismo das caras de Colin Firth ao deparar-se com alguma situação constrangedora de Bridget. O ator deixa transparecer no seu personagem, o mesmo ar de reprovação e surpresa tão caraterístico de Mark Darcy. Se Renée exagerou e saiu do tom com a protagonista, Colin resgata todas as características que fazem seu personagem ser tão marcante por mais de uma década. 

O roteiro explora ao máximo a sutiliza no humor, nas falas de Emma e no olhar de Enzo Broadbent. Os destaques ficam para as cenas em que ela menciona o reality show The X Factor e quando Bridget revela na pizzaria a dúvida quanto à paternidade do filho. O Bebê de Bridget Jones consegue retomar a aura do casal de protagonistas e, principalmente, entreter de forma leve e divertida os espectadores que esperaram tanto tempo pela conclusão das peripécias de Bridget. 

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