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Encontros e desencontros, a vida como ela é ... (Três Vezes Amor)


Se você, caro leitor, já teve a oportunidade de assistir aos filmes Simplesmente Amor e O Diário de Bridget Jones pode notar que ambos são comédia românticas focadas em protagonistas vivendo um conflito na vida amorosa. O primeiro abordava várias histórias e as idas e vindas dos personagens em busca do amor. Já o segundo, Bridget está dividida entre dois amores. Pois a dica deste domingo disponível no Netflix, dos mesmos criadores dos filmes mencionados acima é Três Vezes Amor.
  
A história gira em torno do personagem Will e sua filha Maya. A abertura do filme conta com uma cena hilária onde o pai vai buscá-la na escola e todos estão em pânico. Sem saber o que aconteceu, no momento em que finalmente consegue chegar até Maya, ela menciona algo sobre pênis e vagina. A escola distribuiu uma espécie de cartilha sexual. No caminho para o apartamento, a filha questiona se foi fruto de um erro dos pais. Ele afirma categoricamente que não, mas a pequena não se dá por satisfeita. O pai tem a ideia de contar uma história sobre seus amores mais marcantes. São elas: Emily, a namorada da faculdade; April, a amiga que ele pode contar sempre em todos os momentos e Summer, a mulher que teve um caso com sua ex na faculdade.

Ao longo de Três Vezes Amor, Will conta seus conflitos amorosos e em determinados momentos é interrompido por Maya. Fica claro o papel da filha como uma metáfora do espectador que se coloca no lugar da garotinha, com questionamentos pertinentes e que só enriquecem o enredo. Durante as três histórias, a personagem de Abigail Breslin aparece para nos envolver cada vez mais.


O roteiro é interessante e extremamente direto. Em determinada cena, onde a filha já sabia grande parte da história, ela solta a pérola: "Não acredito que você bebia, fumava e dormia com todo mundo. Mas eu ainda te amo". Ou quando o protagonista se declara para a amiga e afirma: " Olhe para sua vida, ela é um completo desastre. Você deveria participar daqueles grupos de pessoas perturbadas." A forma como o roteiro é abordado nos faz ter empatia pelas três personagens e o desfecho com uma delas não teria tanta importância porque a história sempre caminha para construir muito bem a relação do trio com o protagonista. A personagem de Elizabeth Banks pode ficar deslocada em alguns momentos, mas é fundamental que seja dessa forma. 

A contextualização histórica também é um aspecto interessante que aproxima o espectador do filme como: a morte de Kurt Cobain, o barulhinho da internet discada e o escândalo de Bill Clinton com a estagiária Monica Lewinsky. A literatura também é outro atrativo do enredo, o Clássico Jane Eyre aproxima sempre April de Will. Já o personagem de Kevin Kline teve uma inspiração forte tirada dos livros de Philip Roth,  autor de O Animal Agonizante e A marca Humana. Seu personagem vive casos com mulheres mais jovens.

Um diferencial logo no começo do filme é a edição, os créditos iniciais aparecem juntamente com ambientes característicos de Nova York, a impressão que se tem é que a cidade também pode ser considerada um personagem no longa. Todas as três histórias possuem tomadas externas em bares ou bancos de praças. Quando a filha o interrompe, a tela fica dividida com os dois personagens e com pausas.  A direção inova em alguns recursos, mas logo Adam Books deixa esse aspecto e utiliza takes óbvios para retratar a história. Três Vezes Amor é o tipo de filme que causa empatia ao espectador pelo simples fato de ser direto e retratar a vida como ela realmente é: repleta de encontros e desencontros. 

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