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Entre suspiros e a vontade imensa de ir embora (A Garota do Livro)


É interessante perceber como Hollywood explora quem é destaque na TV americana. Neste caso específico, a atriz Emily Vancamp, mais conhecida como protagonista da série Revenge. O programa tornou a atriz reconhecida no mercado e agora a indústria a lança como protagonista em A Garota do Livro. O filme não inova em vários aspectos, mas por se tratar do trabalho de estreia da diretora e roteirista Marya Cohn poderíamos esperar um frescor diferenciado feito por mãos novatas. O resultado não agrada e a medida que a trama avança, o caos se instala na tela. 

Alice Harvey trabalha como caça talentos literários e nutri uma frustração em não conseguir emplacar sua carreira de escritora. Milan Daneker é um escritor que se envolve com a protagonista quando ela ainda era muito jovem e a incentiva na carreira. A Garota do Livro brinca com o aspecto da referência direta de Lolita, um jogo que poderia ser melhor explorado pela diretora, a atração do homem mais velho e uma pré- adolescente. Um dos principais problemas, dentre os vários encontrados no filme é a maneira como a edição auxilia em tentar contar a história ao espectador. Em quase uma hora e meia de projeção temos o cotidiano da protagonista mesclado com flashbacks de sua adolescência. Como se não bastasse essa interminável interrupção na trama, o roteiro repete falas do passado e presente, como se estabelece no público uma noção de sincronia, mas que na verdade só faz gerar mais confusão para quem assiste. 

O jogo de interesses estabelecidos entre os protagonistas poderia render bons frutos. Ela aos poucos estabelece uma admiração e quer aprender ao máximo com o escritor, já ele, se alimenta constantemente da juventude que ela lhe proporciona servindo de inspiração para a sua escrita. A diretora apresenta uma atmosfera repetitiva que cansa o espectador logo na primeira meia hora de filme. Os personagens entram e saem da vida de Alice sem muitos propósitos. Pode ser reflexo da vida vazia que a mesma leva, mas em nenhum momento ela tem um conversa consistente com seu novo namorado ou com sua melhor amiga, a única personagem com um arco completo na trama. Nem mesmo ela consegue aguentar a protagonista e a dispensa com a justificativa de não entender certas atitudes dela. Neste momento, o espectador se coloca no lugar de Sadie que também já não suporta mais a instabilidade da protagonista. 


Outro equívoco é tamanha a previsibilidade das falas. Em um dos únicos diálogos que prendem o espectador, a protagonista consegue forçadamente derramar algumas lágrimas e pronunciar três frases de falso impacto. O resultado é patético, assim como toda a construção infantilizada que a personagem encontra para superar seu trama. Um blog, no pior estilo auto-ajuda contendo cem passos de como seu pretendente atual a fez ser uma pessoa melhor. Uma atitude questionável para quem busca atingir a maturidade da vida adulta.

Michael Nyqvist tenta aos poucos se firmar no mercado americano, ele possui uma presença forte na trama, mas é vítima do roteiro raso que não faz seu personagem crescer. O contexto proporcionaria dramaticidade para sua interpretação, mas a escolha de Ana Mulvoy Ten para viver a protagonista adolescente, não causa o conflito necessário para segurar a trama e aos poucos o ator perde a força que proporcionou a Milan logo no começo da história. A Garota do Livro não possui definição, ao final o espectador fica com a sensação de ter visto um filme de vários gêneros que não consegue transmitir mensagem alguma, somente suspiros e a vontade imensa de ir embora. 

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