Pular para o conteúdo principal

Quando a autoria se perde nos padrões americanos (Presságios de Um Crime)



O filme Dois Coelhos do diretor brasileiro Afonso Poyart ganhou destaque no circuito nacional e também chamou atenção de Hollywood. Não demorou muito tempo e ele recebeu o convite para dirigir produções fora do país, o que seria inevitável, afinal, seu filme possui uma trama que prende o espectador e nele já era possível ver marcas registradas do diretor, ou seja , sua autoria. Presságios de um Crime é o registro inicial do Afonso em terras estrangeiras, o que poderia ser algo interessante, mas o que o espectador presencia é uma sucessão de equívocos.


Com o elenco envolvido o filme poderia prender a atenção do público durante um bom tempo, mas nem mesmo Anthony Hopkins consegue evitar o previsível: os moldes hollywoodianos de filmes policiais cercados de suspense. O ator veterano atende um chamado de seu amigo e volta a ativa para desvendar uma série de assassinatos. Não me incomoda o fato de vê-lo interpretando pela milésima vez Hannibal Lecter, com seu olhar penetrante, que atende as expectativas do personagem. O maior dos problemas, e são vários dentro do filme, neste caso é a direção. Todo o elenco parece extremamente coreografado, nenhuma cena passa a naturalidade necessária para gerar a tensão que um filme de suspense precisa ter para envolver o espectador. Vários momentos são facilmente antecipados pelo público, assim, toda a trama torna-se previsível e cansativa.


Dr. John possui visões do passado e futuro das vítimas envolvidas nos assassinatos, esses momentos são a marca registrada do diretor, o que funcionou perfeitamente em Dois Coelhos, aqui só auxilia na confusão e repetição desnecessária de cenas fazendo com que o espectador pense: eu realmente preciso ver a mesma cena quatro vezes? Eu já compreendi o contexto da história, não há necessidade nenhuma de ver tudo novamente. Não espante se em determinado momento você pensar: lá vem a garotinha com uma fantasia!!! Até quando isso vai persistir? Com a devida confusão instalada na cabeça do espectador, o filme demora uma eternidade para passar. Afonso acredita piamente que está gerando a tensão necessária para um filme de suspense com seus recurso de câmera lenta, o tiro do revólver, sem contar na gota de leite. Sim, a gota insistente de leite, ela vai lhe acompanhar por boa parte da trama.


O restante do elenco tenta convencer mais ficam reféns do estereótipo. Abbie Cornish é a policial contida em suas emoções, a cópia de Jodie Foster em O Silêncio dos Inocentes, mas que não chega nem aos pés de Clarice Starling. Jeffrey Dean Morgan completa a parceria com alguns alívios cômicos. Presságios de um Crime poderia ser mais um filme mediano produzido pelos padrões americanos, mas que no meio do caminho teve a "autoria" das mãos brasileiras que infelizmente não encaixou no contexto da história. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, não é uma crítica (Coringa : Delírio a Dois)

Ok, o título estampado no cartaz é: Coringa: delírio a dois. Podemos criar expectativas que a continuação é um filme do Coringa, correto? Na realidade, o que Todd Phillips nos apresenta e faz questão de reforçar a cada cena é que temos o Coringa, porém, o protagonista é Arthur Fleck, um homem quebrado físicamente e mentalmente. Temos também Lee Quinzel, que projeta no outro um sentido na vida e começa a manipular Arthur, para que Arlequina venha à tona. Podemos refletir sobre a manipulação da personagem, ela inclusive reforça:"Não assisti ao filme vinte vezes, talvez umas quatro ou cinco. Quem não mente?". Mas dizer que ela é culpada pelas atitudes de Arthur/ Coringa? A coerência existe no fato da personagem possuir um transtorno mental e, por isso, justifica o desejo e manipulação. Agora, qual a necessidade de criar uma pauta inexistente? O grande equívoco talvez seja do próprio estúdio em não vender o filme como musical e gerar expectativas equivocadas no espectador. É um f...

Uma guerra que está longe de acabar (Um Estado de Liberdade)

O período era a Guerra Civil Americana e o fazendeiro Newton Knight foi convocado para lutar, mas vários questionamentos lhe inquietavam: Morrer com honra defendendo a Nação? Qual o objetivo da guerra? Quais eram as verdadeiras motivações? Após perder o sobrinho, Knight responde ao companheiro: "Ele não morreu com honra, ele simplesmente morreu." O protagonista leva o corpo do jovem para a mãe e a partir deste momento é considerado desertor. Determinado e ao mesmo tempo refugiado em um Pântano com escravos foragidos, o personagem torna-se líder de causas significativas: A independência do Estado de Jones, no Mississippi e a questão racial.  A narrativa peca em alguns aspectos no roteiro por explorar subtramas desnecessárias que desviam o foco da trama principal. A montagem prejudica o ritmo do filme ao enfatizar a história de um parente distante de Knight. O mesmo acontece com a primeira esposa do personagem, interpretada por Keri Russel. O núcleo familiar é aprese...

"Isso parece uma novela" (Bad Boys Para Sempre)

O começo de Bad Boys Para Sempre é basicamente um resgate do primeiro filme dirigido por Michael Bay. Mike e Marcus estão em um carrão em alta velocidade trocando ofensas e piadas enquanto percegue suspeitos. Além de todas as referências, a trama gira em torno de vingança, uma vingança mexicana. Sim, os vilões são mexicanos. Bandidos de um lado, policiais do outro e segredos revelados.  Will Smith sabe como lucrar na indústria, apesar de algumas escolhas equivocadas em projetos passados, Bad Boys Para Sempre parece uma aposta acertada do produtor. Desde o primeiro longa a química entre os atores é o que move a trama e na sequência da franquia não seria diferente. Martin e Will são a ação e o tom cômico da narrativa. Os opostos são explorados de forma intensa. Martin está mais contido com a chegada do neto e Will na intensidade de sempre. As personalidades se complementam apesar da aposentadoria momentânea de Marcus. Tudo ganha contornos diferenciados quando a família em to...